6 de maio de 2011

GD 91 OS ÂNGULOS AMPLOS ERRANTES.....


 Enquanto a imagem corre ampliada nas pradarias onde o frio descreve palavras em galhos, uma ofegante respiração fugitiva desenhando círculos em névoa, corta cada ligação da epiderme lateral da boca. O nervosismo transpira claustrofobia e quanto mais amplo, mais mínima na vastidão sua sombra se torna.
Esta é uma das imagens que podem formar-se no fundo de sua retina, quando os acordes de Little King, canção que abre o disco (ou melhor EP) de estréia do trio são franciscano SLOWNESS, corroerem seus ouvidos.

Hopeless but Otherwise, tem uma profundidade inicial que assusta, mesmo porque dificilmente em dias onde os assassinatos e gols são motivos de comemorações diversas, existe uma faixa de abertura com nove minutos e trinte e três segundos. Um longa metragem, com fotogramas repletos de medievais batidas.

Como se fosse possível existirem clavas formadas por notas, a banda consegue instalar no shoegaze um clima com nervos expostos. Mas a loucura não contém aciduladas lisergias de outrora. A nuvem em funil de devastação forma-se vagarosamente. Guitarra, bateria e baixo relacionando climas medievais aos acordes. E não pense sequer em algum minuto, recorrer ao abaulamento cerebral da pressa. Existe uma contemplação necessária para que todas as notas traduzam o caleidoscópico sentido.

Não existem lugares para conquistas armadas em selas poderosas ou helicópteros de última geração, retirados de sonhos em quadrinhos. Esse clima cinematográfico parece apenas preparar seus ouvidos para a transposição de sonoridades que surgem em seguida. Mas o trio parece ser pedagógico quando Black & White inicia-se. Mesmo assim sempre é bom recordar os seminais acordes do gênero, mesmo que na roupagem atual de sempre. A teoria repetida pode até parecer acadêmica demais, mas entender o conteúdo do material sempre fez bem.


Exatamente por isso que Duck & Cover ganha tamanha força logo em seguida. Uma garagem que escorre lava, produzida por cada mitocôndria pulsante dentro do EP. A velocidade aqui não se faz imponente, muito menos deveria assim ser. É cortante como qualquer navalha talhada em cordas, passível de cortes cada vez mais profundos em todas camadas de sua medula espinhal.


Slowboat conecta dois mundos, a amplitude da paisagem inicial e a cadência lenta e circular na letra. Os acordes slideanos determinam a saída desse longo tubo formado por ventos marítimos. Hipnose talvez seja uma definição quase tão pleonásmica quanto o ar para a respiração. A banda consegue em apenas quatro canções, depositar milhares de imagens e formar um quadro do yin e yang do shoegaze. Circulares culturas de formas geométricas quase tão perfeitas quanto o sentir.

Um disco na melhor sintonia da palavra, ligação iônica quase tão perfeita quanto uma sinapse involuntária. Acordes que escorrem pelas remotas áreas dentro de sua cabeça e que provavelmente ficarão ecoando por dias e dias. Iniciantes com a mais alta categoria.
Ouça Hopeless But Otherwise abaixo...