13 de maio de 2011

GD 92 ELITES DIFERENCIADAS

 O raciocínio ainda percorre caminhos obscuros durante essa semana. Por muitos segundos intrépidos fica difícil não pensar que seria tudo mais fácil com um quilo de dinamite amarrado ao peito. Moramos em um país cercado como nos tempos das capitanias hereditárias. Linhas imaginárias dividem espaços terrenos embebidos em óleo e água fervente. A pele é escaldada sem interrupção, escondida por um suspiro de acalento. Tornar-se apenas um amontoado de carne podre e dilacerada é uma questão de tempo. São batidas epilépticas que ressoam por entre ouvidos despreparados. O problema não está na palavra, mas na falta da interpretação dela.

Revoltante seria não poder mais lutar contra esse muro de imposições que perambula trôpego por entre a sociedade. Pedaços de tijolos em forma de ofensas verbais, corrupção, homofobia, mídias e seres ignorantes que são a mais suja desculpa do ser humano.
Uma resenha de alma, que coloca no ar idéias tão retrógradas quanto o coronelismo em que vivemos.

Coronelismo que reside nessas amarras transvestidas de modernismo, pertencentes ao mais puro estado de colunismo social em que vivemos. Sociedade que depende de deuses fariseus informativos que sangram uma miséria de alma intensa.

Miséria refletida nas idéias de que a liberdade de expressão é confundida com o que pode-se ou não falar. Liberdade não é escolha de palavras, são notas faríngeas dispersadas pela anemofilia da informação. O escárnio para com idéias que não são necessariamente iguais as suas, faz parte dessa liberdade.
Mas não o podar da boca, ou querer calar.
Não existe liberdade no silêncio da voz.


Vozes que reclamam das elites. Que elites?
O Brasil é um país de elites.

Como se fosse uma marca que não desgruda da cadeia helicoidal, existe essa sensação de gastrite por entre a alma nossa. Definir o termo é tarefa árdua, afinal de contas a elite portuguesa colonizou, colocou a população indígena no corner esquerdo. A militar escondeu, atirou e tinha predileção por eletricidade.
A noção de que existiu o "pra frente Brasil", não levava em conta os párias de pátria que formavam favelas.

Serão as elites políticas da situação ou oposição que colocaram a corrupção em cotidiano insano.
FHCs, Lulas, Dirceus, Sarneys e Malufs, políticos manufaturados por uma fábrica de maritacas tacanhas, onde não importa o tamanho ou sexo. Nossa política é elitista de conchavos e acertos, afinal de contas os governos que passam por nossos olhos, apenas aumentam a distância entre os mundos populacionais.

Ou ainda as elites da esquerda cultural. Máfias formadas por quem deveria libertar, educar seminalmente. Uma política suja de tapinhas nas costas e acomodações testículo-bucais. Elite que segrega quem não pertence ao círculo social descolado.

Qual a elite a qual devemos culpar???

Não acho que elas sejam culpadas, são apenas reflexo da covardia nossa de cada dia.
Do nosso afastamento da luta armada de palavras e canções. Não existe luta contra esse modus operandi vigente no país.
Fazer churrasco em frente ao shopping ajuda, mas não resolve. Esse tipo de manifestação acaba virando atração circense, aquário politicamente correto, cheio de espécies coloridas. Prova disso foi a mudança no conceito inicial do ato marcado para amanhã no bairo de Higienópolis.
Isso sem contar o fato de que muita gente que protesta contra os moradores que não querem o metrô, pertence as elites dos descolados. Uma elite brigando com outra, esse é o resumo da opereta.



Não adianta reclamar do humorista que fala sobre estupro em mulheres feias, se você quando criança deliciava-se cada vez que Didi chamava Mussum de "grande pássaro" e "negão", ou fazia alguma piada sobre como o Dedé era gay demais. O tipo de humor era o mesmo, o que diminuiu foi o talento. Mas ser ruim não é crime.

Essa metodologia que regurgita Bakunin, Engles e Marx, vestindo o mais novo Converse é tão poluída ideologicamente quanto os oradores ricos paulistanos. Liberdade é conviver com pessoas idiotas, sem a mesma opinião que a sua, mas com direito de expressá-las. Seja ele de esquerda, direita, homofóbico, nazista, xenofóbico, Rafinha Bastos ou Danillo Gentilli.

Você não deve concordar, muito menos se converter, mas é obrigatório que eles tenham voz, para que você tenha a sua. Para debater contra idéias mórbidas e mortas. Liberdade é poder sentar em uma mesa com alguém como o Deputado Bolsonaro e não o arrebentar de porrada, mas sim debater idéias e provar por A + B que ele é uma caricatura obsoleta da ditadura militar.

Não me venha falar sobre deterioração de um bairro nobre por causa do metrô, sendo que o lugar já é povoado de toda a sujeira que existe na sociedade moderna. Drogas em quantidades gigantescas circulandos pelos flats mais nobres, lixo pelas ruas e praças, pessoas sem a menor noção de educação.
Não me espanta Higienópolis ser o ponto preferido de pessoas nascidas na minha terra, Jaú.

O bairro paulistano mostra-se bem parecido com a cidade do interior. Uma minoria rica querendo tomar as rédeas do desenvolvimento da cidade. Escondidos por trás das colunas sociais e a podre moralidade religiosa.

O câncer do coronelismo que evoluiu em Jaú, agora retorna aos seus donos por direito.


 Mas a culpa é nossa, toleramos essa apatia de ações como se estivessemos em coma. Os gritos de revolta serão ouvidos até a esquina e depois dissipados nesse mar de elitismo que cerca o país desde sempre. Coniventes com uma revolta tão demagógica quanto os fazedores de horríveis piadas. 

Piadas que agora devem passar pelo crivo dos descontentes. Pela aprovação dos politicamente corretos. Tudo isso embalado por uma imprensa de tablóide. Jornais que se intitulam os maiores do país e em suas páginas uma onda ginasial de informações cheias de parcialidade e lixo. Por muitas vezes tudo parece briga de criança em pátio de colégio:

"Ele me chamou de feia!!!"
"Ela me disse que sou gordo!!!"
"Bate nela tia, ela disse que minha mãe tem pelos nas axilas!!!"

A criação do estado Nelson Rubens de ser e de conduzir as informações.

Lembro-me bem que durante anos no colégio eu tive meus braços torcidos por valentões.
Você sabe o que é ser chutado durante oito quarteirões, com pés acertando o meio da sua fissura anal???
Oito quarteirões repletos de guardas jauenses da SS moralista que xingavam, batiam e colocavam dentro do cérebro de um garoto de treze anos a figura do ódio.
Eu era motivo de piadas durante esse tempo, fossem elas sobre óculos, bom mocismo, notas altas e aparelhos ortodônticos. Existia até uma que colocava as iniciais do meu nome na berlinda. FNB tornava-se "fogo na bunda", ao invés de ser a minha identidade.
Isso sem mencionar as espinhas.

Minha vida de cachorro ginasial foi uma das piores, nem por isso imaginava que a castração era fundamentalmente uma saída. Mesmo com uma explosão de revolta, percebi que a violência ou a retirada da liberdade das piadas, não era a resposta.
Ser melhor não é calar a voz ou matar o corpo, mas sim tornar-se poderosamente invencível para o mundo. Não existe piada duradoura, quando ela é sem graça. Mas o evoluir mentalmente é primordial. 

Por isso não adianta reclamar de humorístas, temos que ser melhor que eles. Em um mundo que está mais cínico do que o normal, onde assassinatos são cometidos em nome da liberdade contra o terrorismo, a única moeda válida é a transcendência intelectual e de alma. Mostrar para os detentores de poder que eles não passam de pessoas, que como nós tem direitos, deveres e não são maiores que ninguém.


Humanismo não é algo tão romântico, é a possibilidade real onde o coletivo tem a força das minorias trepudiantes. Lutar não é acertar uma pá na cabeça de algum menino de 15 anos mestre em bullying.
Não é cercanear o direito de alguém falar alguma bobagem. A vontade de mudança passa por ações concretas dentro de si mesmo.
Tornar-se imune à sujeira toda que nos é jogada dia após dia pelas minorias racistas, pelos humoristas sem graça ou pelos formadores de opinião da elite descolada.

Debater e ensinar quem ainda não tem a noção sobre as coisas. Mostrar o caminho do bem que está tão esquecido quanto uma tabuada rasa de ginasial.
Liberdade é isso.
Lutar por entre as valas de excrementos em forma de pensamentos, transcender o ódio através da amorosidade. Não calar através da violência, seja ela verbal ou escrita.

Só assim é possível transformar lâmpadas fluorescentes que são hoje armas, em iluminação para a elevação do espírito...