16 de julho de 2011

GD 101. A MARCHINHA DA COPA AMÉRICA.


Ontem à tarde, na coletiva de imprensa com a seleção brasileira de futebol, uma cena atípica foi vista, ouvida e deixou no ar uma pequena centelha de inconformismo. O jornalista Wellington Campos (mineiro, narrador da Rádio Tamoio do Rio de Janeiro e correspondente na CBF para diversas emissoras: Itatiaia de Belo Horizonte, 730 de Goiânia, Paiquerê de Londrina, Banda B de Curitiba, Jornal do Recife e Clube de Belém), antes da primeira pergunta passou suas iniciais falas agradecendo a CBF e os profissionais da imprensa que trabalham para ela. Com palavras sobre a estrutura oferecida, deslanchou uma série de afáveis lambidas nos testículos da entidade. A educação do repórter Campos, está escancarada pela internet afora.


Aprendi que ao visitar a casa de qualquer pessoa, deve-se realmente agradecer a hospitalidade e os bons tratos. Mas a casa onde realiza-se a Copa América, não é a da CBF. É sim um país chamado Argentina. Irmãos de história continental, por muitas vezes motivo de piadas grosseiras por seus irmãos brasileiros. Obviamente as traquinagens sempre acontecem dentro do assunto futebol, mas não podemos esquecer quem são nossos reais anfitriões.
O povo argentino. São eles que atendem nas lojas de presentes, nos restaurantes, nos táxis, nos ônibus, nos banheiros públicos ou nos grandes hotéis. Não são os assessores de imprensa da CBF. Por isso esse agradecer de Campos foi no mínimo mal direcionado. Mas o afago em Ricardo "Corleone" Teixeira e sua latrina de brinquedo chamada CBF, talvez mais do que inconformismo, mostra um ângulo muito pior da face nacional.

Arremessa em nossa cara, uma parte que ainda teima em marcar morada no modus operandi coronelista em que esse país foi criado. Revela a subserviência de quem por direito deveria protestar. O crescimento evolucional dessa prática, nasceu com os senhores de engenho afagados pelos escravos da senzala, passou pelas pessoas que viam nos militares da ditadura uma forma digna de governo e agora torna-se beijo na mão de uma entidade no mínimo sórdida.

Não temos que agradecer a CBF por nada. Tratar bem quem cobre os eventos esportivos, é o mínimo possível para que exista a garantia de um sistema livre. Um lugar onde ocorra a troca de informações, perguntas e respostas. Uma boa estrutura para uma coletiva é dever básico da entidade que cuida da seleção brasileira de futebol.
Nada mais.

Não existem benfeitorias relacionadas à essa entidade, que não sejam feitas em favor dos donos do poder. O histórico de corrupção, acerto de resultados envolvendo juízes, partidas decididas nos famosos tapetões e as recentes denúncias (comprovadas) de que Ricardo Teixeira nada em mares de propina salgada, apenas corroboram com o sistema dos antigos donos de latifúndios da época do café com leite. Superfaturamentos nas obras para a Copa do Mundo, isenção fiscal para um clube que possui noventa milhões para gastar em contratações e a formação de uma quadrilha que conta com Andrés Sanchez (presidente do Corinthians) como seu novo membro, apenas mostram que não existe nada para sentir-se agradecido.

Agradecimentos seriam necessários se por acaso, a estrutura do futebol brasileiro fosse bem cuidada. Se o torcedor que realmente faz desse esporte paixão ventricular aguda, fosse mais respeitado. Um grande obrigado pela extinção dos cambistas e da distribuição de ingressos para uma pequena porção de uma elite, que aparece nas câmeras em grandes eventos usando camiseta do Brasil e batendo no peito pela patriotada vigente.



Eu ajoelharia aos pés de Teixeira, se por acaso ele e seus capangas acabassem com a falta de estrutura dos pequenos clubes, jogadores que trabalham no futebol com qualquer operário. Pessoas que fazem de sua paixão, um ganha pão. Bateria palmas entusiastas, se de repente a CBF pudesse ser transparente em seus contratos. Quiçá uma limpa imagem com os direitos de transmissão dos jogos, ou ainda se Tricky Ricky (como é chamado por Andrew Jennings, jornalista da BBC) conseguisse acabar com a bandalheira que tornou-se o futebol brasileiro. Um aglomerado de conchavos que tem em suas contas políticos, partidos e bancadas que blindam suas costas (largas) contra processos e investigações.

Mas acontece o contrário. Estarrecidos ficamos quando na revista Piauí, o general mostra-se uma pessoa que vive fora da realidade, tratando uma entidade que lida com dinheiro do povo (ingressos, vendas de produtos), como se fosse uma grande fazenda latrinária. Confesso que ao ler a entrevista, nâuseas apareceram. Uma figura pública que considera-se acima de tudo e de todos. Vive em um mundo onde a fantasia de milico galopante cai-lhe com uma luva. Passando por cima de tudo, em favor de interesses escusos.

Infelizmente não concordo com o mestre Ugo Giorgetti, em sua coluna no jornal Estado de São Paulo do último domingo. Onde ele descreve Ricardo como um homem amargurado, infeliz e que vive em isolamento de alma. O presidente da CBF é sim um bandido da pior espécie. Aquele ladrão que ainda faz algazarra de sua cara quando te assalta. Regido por um cinismo embebido em álcool malufesco das eleições de outrora. Do mesmo jeito que os nazistas tentaram destruir a cultura judaica com o extermínio, a CBF e seu presidente tentam violentar de uma vez por todas a paixão nacional.

Ele não é um homem infeliz, mas sim um crápula.

Mas pior que o larápio, é aquele que faz vistas grossas e aumenta o já cantarolado cordão dos puxa sacos, como o jornalista Wellington Campos. Faz um desfavor para sua classe e para o povo quando lambe lânguidamente um escroto podre. O mesmo desfavor que a Rede Globo faz quando omite-se nas investigações sobre a corrupção, compra de votos e propina envolvendo o dirigente. O mesmo senhor que nas linhas da revista diz que manda na programação do canal. A emissora toma um golpe contra a liberdade e prefere calar-se por conveniência, calar-se por que será a mais favorecida na transmissão da Copa do Mundo aqui no Brasil. Uma copa feita pela elite corrupta, para uma elite omissa.

Não pense que o povo, aquele que realmente ama o futebol como a arte maravilhosa que é, vai usufruir do campeonato realizado nas terras tupiniquins. Quem ganha com isso?
Políticos como Aécio Neves, a bancada que favorece a CBF no Congresso e mais alguns gatos pingados sujos em excremento.
O povo vai continuar nas mãos de cambistas, da estruta mal organizada, nos transportes públicos de terceira categoria. Usufruir algo apenas pela televisão, no canal que mais se omitiu quando a necessidade em lutar pelo fim de algo que prejudica a sociedade, era necessária. Estamos reféns de uma verdadeira máfia nos moldes da lei seca americana. Ou se você preferir, poderosos chefões.