18 de agosto de 2011


Se as simbioses entre continentes são realizações que trazem aquele alento mórbido de que um dia talvez tudo seja uma coisa só, os Rolling Stones estavam como sempre à frente de seu tempo. Os primórdios da banda entre 1963 e 1970 são territórios que por mais explorados, ainda guardam certas surpresas. E no caso dos tectônicos rapazes ingleses, essa palavra nunca é acompanhada do marasmo.

As primeiras gravações da banda ocorreram pela gravadora Decca Records, selo inglês fundado em 1929. No ano de 34 estabeleceu uma filial nos Estados Unidos, mas a Segunda Guerra Mundial retalhou a união entre as duas sedes. Mesmo distantes, foram responsáveis por inovações dentro do mercado. A matriz inglesa é percurssora de avanços tecnólogicos na metodologia de gravação e a "filial" americana iniciou o que ficaria conhecido como cast album, disco onde registrava-se musicais completos. As canções eram gravadas ao vivo para que se tivesse a sensação do espetáculo de maneira mais completa.


Mas além disso a gravadora também possuia uma extensa coleção de gravações não usadas, takes alternativos e músicas feitas para outros cantores e bandas. Tudo isso com os nomes Richards e Jagger atrelados. Mesmo com algumas compilações durante esse tempo todo, muita coisa ficara de fora desse espólio infernal de notas. Mas o disco Metamorphosis mostra-se quase uma compilação definitiva do que pode ser chamado, o nascer da alma na maior banda do planeta.


Beatlemaníacos acalmai-vos.
Não permaneçam em faces de virulenta violência pela expressão "maior banda do planeta". Mesmo porque quando essas canções foram gravadas, já existia mais um entrecanto que uniu as duas bandas. E você pode até depois sair dizendo que sem os Beatles, não existiriam os Rolling Stones.
A Decca Records antes de assinar contrato com o quinteto, recusou o quarteto, pois o executivo Dick Rowie achava que bandas de rock estavam com seus dias contados. Um ano depois, pelos conselhos de George "Yoda" Harrison, a Decca contratava as pedras que rolam.
Mesmo assim, atenha-se ao fato de que os sinais não poderiam ser mais claros. Afinal de contas a gravadora inicial da banda mixava informações entre dois países, Charlie Watts e seus comparsas alquimizaram as músicas. 

De lado com a história.
Essa coletânea como quase todos os trabalhos envolvendo o nome da língua em lava, tem preciosidades que não apenas mostram a capacidade em produzir petardos equacionados com blues e cadilaques, leves transfussões de soul. A limpeza do áudio apenas corrobora com a qualidade das canções. Seria uma das melhores coleções de raridades para uma banda, mas esse disco não parece reunião de lados b. Mesmo com as saídas alternativas e cruas de algumas das faixas, estão longe de mostrarem-se sobras ou encomendas. São clássicos desde o momento em que seus aquedutos auditivos fundirem-se com as notas.

Essa época, marca a parceria entre os Rolling Stones e o produtor Andrew Loog Oldham.
Músico, ele também aparece como autor de algumas dessas canções. Aliás o produtor canta em I Known, composta em parceria com Keith Richards. O que nos leva a outra característica muito bem vinda nessa metamorfose.

Não é apenas a banda completa que aparece distorcendo a realidade das notas dentro do álbum. Muitas das canções foram escritas por Jagger e Richards para outros artistas.
Como Lennon e McCartney, os gêmeos também escreveram canções para terceiros.
E não foram poucas.


I'd Much Rather Be With the Boys foi gravada pela The Toggery em 1965, (Walkin' Thru The) Sleepy City  pelos The Mighty Avengers em 1965 e We're Wastin' Time foi para Jimmy Tarbuck no mesmo ano.
E ainda não acabou por aí. A dupla de compositores muitas vezes foi acompanhada por uma série de camaradas com um certo peso. Correram pelas gravações nomes como Jimmy Page, John Paul Jones, Clem Cattini, John McLaughlin, Tony Hicks e Graham Nash.

Isso sem contar os momentos de sublimação da alma como na cover da música I Don't Know Why, de Stevie Wonder. Gravada na noite da morte de Brian Jones e que era para estar em Let It Bleed. Outra regravação que tem a marca dos Stones é Don't Lie To Me, de Chuck Berry.
Não apenas uma coleção meramente ilustrativa. Tem história, toneladas de alma e passagens marcantes por entre as faixas. Esse disco mostra muito do que estava por vir e está impregnado de gênese. Talvez uma das fusões de faixas esquecidas mais inesquecíveis de todos os tempos.

E se você se pergunta onde você pode achar, a resposta está aqui. Existe uma versão binária desse disco com 26 faixas, dez a mais do que a versão física. São outras raridades da mesma época como por exemplo Blue Turns to Grey.