15 de agosto de 2011

GD 106...DOMINGO NO PARQUE....


Escrever é um ato egoísta.
Você se isola, não temente da solidão que evoca o ato. Mortifica o viver em grupo pelo simples ato de permanecer envolto em pensamento seus. Confusões e situações onde a mais perene idéia sobre coletividade é algo que mata tanto quanto câncer ou hepatite. Egocêntrico ato que provoca irradiações pedânticas das mais variadas graduações.
Escrever é além de egoísta, inerte ao coletivo. Pensamentos em fenda sináptica tectônica de solitudes, assim escrever é algo mais do que pessoal apenas.
Aprisionar a alma em uníssono de viver.


E a solidão limita seu contato com o novo apocalipse. Cena que outrora seria definida por filhos assassinando pais, hoje tem a preferência pelas mães que revoltam-se quando são presas pelos crimes dos filhos. Os primogêntios homicídas vieram e o fim de mundo passou.
Mas as Mães de Mariana mostram que sempre existirão novas cenas para recobrir velhas histórias.
Os pastores chutadores do final dos tempos, que pelo voto de pobreza saem da cadeia com cheques sem fundo, podem orgulhar-se das profecias em água benzida pelos raios da televisão.
Choque entre a maioridade penal e a menor idade educacional.

São pílulas e mais pílulas.
Ataques conscientes de insanidade que transbordam pelas bordas incendiadas do concreto.
Quatro anos depois do herói capitão de elite, ainda se atira em reféns e dissolve-se carros com balas. Mas existem os grandes eventos e alegrias fantasiadas em milhões. Os locais dos shows e espetáculos, tudo muito ensaiado e de esmerilho do caráter.

E como a solidão nessas horas conforta.
Mas existe algo errado em ficar trancafiado dentro de sua própria liberdade individual caseira. Manuais de sobrevivência moderna escalados como atrações dominicais, apenas mostram que os problemas ainda não foram resolvidos. Mas, as fantasiosas saídas do escrever podem tornar-se mais do que escape, tornam-se cegueiras alternativas.

Por entre Eps perdidos e acordes em vencimento cada dia mais precoce, parece que as nunces da educação estão sendo cada vez mais deixadas de lado. É muito mais fácil distorcer o destino insólito e deliberar as obrigações para terceiros. Sejam eles namorados, jogadores de futebol em ascensão, psiquiatras em pleonasmo e remédios fagocitados com sede desértica, por idades cada vez mais precoces.

E aí não existe máscara de gás radioativa ou roupa de látex compressiva que separe a realidade dos momentos, dos instantes claustrofóbicos da solidão. O gesto intimista não esconde mais a regurgitação desse gástrico suco amargo que revolta sua garganta fálica. Pode-se até esperar iluminação das letras, mas jamais a mudança foi tão fisicamente necessária. O ganhar asas para voar, agora se faz através de parafusos sujos de oxidação das vidas humanas.
Desprendendo-se de engates carcomidos pela negligência.
Solitário ou não, o penar do descaso humano é maior que qualquer texto.

E vamos correr dos zumbis para encontrarmos o nosso maior temor.
Uma questão que agora não é mais à favor ou contra o aborto.
Não mais preocupações com os fetos mortos ensopados de remédios clandestinos, entornados vagina adentro. Atos em desespero que despencam a possibilidade de livar-nos da pecadora católica igreja repressora. A discussão que começa agora encobrir o direito da mulher sobre o destino de seu corpo, é sobre o que fazer com os não abortados.

Os nascidos em berço de ouro, prata, bronze ou latão. Aqueles que ainda chegam gritando por entre as calamidades diárias de nossa sociedade.
São eles que despertam a maior preocupação.
O que fazer com os nascidos?
Na rua disponibiliza-los?
Nas mãos das instituições públicas que caducam a educação?
Deixar que o destino seja a bússola de todas as ações?

Não irão desaparecer, rondarão pelos seus pesadelos.
Sendo assim, você que os entretenha.
Sem as fantasias da psicologia barata de passíveis vencedores heróis em carros rápidos.
Ou da imaginária violência dos vídeo games.
Fugir da obrigação com os vivos, talvez seja pior do que abortar centenas de células da discórdia.

Mas o ato de escrever não é chavão de mudança. Não existe poder divino no ato de escrever. Pode-se até colocar o patamar de santificação no horizonte.
Mas que maldita quimera seria essa.
Divindade?
Missão celestial??

Qual nada.
Escrever é apenas um ato simples como a educação. Como os primórdios do saber conviver em sociedade. Não é direito divivno nem missão. É algo que é por direito seu e mais nada. Mesmo assim renegamos a escrita, esse status deusificante.
Mas deus está morto.

Escrever também é falar, debater e mostrar.
Escrever é poder olhar o outro como igual e fazer a voz dele reverberar.
Muito mais do que o isolar-se, escrever deve ser grito.

Para que se acorde os vivos.