26 de abril de 2013

Saliva...


As pessoas no metrô andam doentes,
assoam, tossem e espirram filamentos ao vento
tormento esse não fosse suficiente
ando por entre protozoários macabros
o estrondo, o estouro e o insolúvel
como uma mitocôndria mira flores

Talvez essa existência seja hipocôndrica
talvez a sofreguidão seja esfregaço
talvez a lãmina seja lúdica
talvez a morte seja única – estação –

Queria poder usar tua pele
produzir uma obra a passear
por tuas linhas em tela

seria única
seria cinza
seria assombrada
seria sexo, sangue e laceração

Tua actina dissolvendo meu esperma
como quando em cima ficas
teus bicos em minha língua
teus seios em minha salivação

Porém, as pessoas andam doentes no metrô
desilusão fúnebre dos passantes
contagia em conta gotas a alma
de quem próximo deambula
/e/ se
perde a pensar no soneto que não vem

Na vida parada na inércia,

do plástico banco cor de merda

E ao mesmo tempo em que o cheiro veritas
a sombra de teus nódulos metatarsiais
afaga minha nuca no sofá
e mesmo isso não é poema
nem soneto verso
o único piso frio que ofereço ao mundo
como sempre conotas

Mal sabes que a sua luz salva
desses detalhes de íntimo cárcere
mal sabes que o desassossego não é lápis
que o podre permanece preso solitário
dentro de uma caixa com cadeados
só aberta na hora do exorcismo...