20 de abril de 2019

Gato fuleiro

Do meu coberto apartamento
andarilho bêbado
e sarnento cão ao longe enxergo

Fita-me
como quem diz
“Ah se eu pudesse logo te dava um sacode”.

Justo eu
gato sartreano
existo porque sei do meu lugar.

Minha consciência mambembe
corrói o desejo
do quadrúpede salivante

Carente amante humanoide
meu sossego
a invejar

Mas tu pensas, eu
bancarroto felino
tenho apenas cordas vocais
n'um safo esconderijo:

“Alto lá sacripanta!"

Estivesse a rodopiar minhas patas pelo concreto,
já teria abalroado esse cão
com rabo de arraia,
martelo e sopetão.

Estirado eu
acima dessa canina
barriga flácida
proclamaria vitorioso arrastão.

Mas é domingo, o almoço foi forte
duas doses de conhaque nesse leite
deixaram-me na sacada
adiando mais dia esse sacode.