São 22 anos passados. Duas décadas onde o tempo não apagou a mínima gota de sangue, que escorre pelo suor de um quarteto que continua tão eterno quanto seminal. Para quem viu de perto a comoção causada pelos acordes em lava de Frank Black, Kim Deal, Joey Santiago e Dave Lovering em um chamado grande festival de rock nacional, sabe que o peso e salvação produzidos por guitarras ainda não possui uma réplica que possa ser comparada com a banda PIXIES.
Esse ano, marca a entrada na juventude adulta de um dos melhores discos dessas décadas glaciais.
DOOLITTLE.
Lançado em 1989, é tão vital para a históriado rock quanto a respiração é elementar para o ser humano. Antes do ano onde o punk tomou o mainstream, os quatro cavaleiros do apocalipse garageiro mostraram mais uma vez por que são considerados os pais genéticos do alternativo. Uma linhagem de canções não só clássicas, mas com uma alma capaz de explodir com a mesmice em qualquer país do mundo.
Esse foi o primeiro disco da banda que ouvi, em um tempo onde eu apenas achava que a binariedade poderia salvar o mundo da mediocridade. Mas ser atropelado pelo Airbus que é o álbum, é atingir a velocidade da luz dentro de seu mais interno gene e sentir sua face derreter.
Ecdise artrópica de alma embalsamada por letras que eram tão profundas quanto pesadas, ou simplemente de uma pura e verdadeira diversão. Explodir os brônquios ao cantar Debaser era uma religião tão fanática quanto os mais contemporâneos ismos que levam bombas em suas cinturas. Um inapelável sentido de vida, dentro de um disco que tornou-se épico com o passar do tempo.
Uma banda que ainda não lutava contra seus demônios ou entre si, geniais na concepção mais perversa da palavra. Uma sujeira tão grande de acordes, que o cheiro de diesel é parte integrante de sua corrente sanguínea. As linhas da resenha que encerravam uma das edições da revista Bizz, apontou-me o caminho por onde meu coração não mais era uma caixa metálica embebida em engrenagens bem engraxadas, e sim explosão de ventrículos sem rumo.
Esse show que você assiste em sua totalidade abaixo, é uma apresentação gravada no dia 19 de maio de 1989, alguns dias depois que o disco fora lançado. Mais clássico que isso, impossível.