Vivemos em um tempo onde o apocalilpse intelectual é apenas uma questão de tempo. Pulsante como uma veia peniana cheia de esperma e ódio, a vida brasileira dentro dos meios de comunicação e da cultura carece urgentemente de um câncer que tome tudo de assalto e dissolva as artérias podres do descaso. Programas que regurgitam ruminações derivadas de um barrete purulento, subcelebridades que cospem e no meio de tudo isso, o povo. Engolidor de líquidos que são tão ensebados quanto os cabelos de Kurt Cobain.
Não existe escapatória para os tempos perigosos que vivemos. Circo do absurdo dentro de um útero possuido por algum súcubos de terceira categoria e seu membro em vermelho lava, estuprando virgens católicas analmente. A única verdade que atualmente cerca nossa consciência é a que o passado tinha muito mais força do que nossas décadas atuais. Não estamos ficando mais burros, afinal de contas a tecnologia nos dá o poder para acessar milhares de informações importantes e conhecimento.
Estamos ficando sem referência.
Não existem mais exemplos para seguir a octaedracubana idéia da transcendência. Não existem grandes líderes, soberbos pensadores. Existem apenas pequenas epilepsias que vez ou outra aportam em nossos cíngulos, disparadas por heróis que acreditam ainda na capacidade de libertação do mar de lama e merda onde nadamos atualmente. A única verdade nesse mundo falido é a integridade daqueles que ainda lutam.
Isso poderia ser diferente, se por acaso a retina deslocar-se mais vezes por camadas de névoas e buscar exemplos vindos de outras cenas. Como por exemplo o rock argelino.
No início dos anos 70, a sociedade desse país passava or uma transformação significativa. A abertura cultural e a sede por maiores conhecimentos impulsionou o povo na procurar por novas vertentes no ocidente. O problema é que o governo, ditatorial da época, não queria saber de muitas relações com esse tão podres yankes do ocidente. Resultado: a repressão acabou tornado-se a tônica, afinal de contas quando não se entende o outro lado, é melhor mata-lo.
O controle governamental sobre a cultura chegou ao ponto de proibir a radiodifusão de músicas do gênero Rai Music na Argélia. As canções e bandas ficaram restritas aos cabarés e casas onde a mais antiga das profissões eram uma transgressão política.
Prostitutas e músicos comunistas.
Uma leva de novos artistas então bebendo da fonte proibida, resolveram remodelar o gênero, utilizando metais vis e guitarras dentro do som da pátria. O resultado foi uma profusão e reinvenção do estilo pelas mãos de grupos como El Azhar, Messaoud Bellemou e L'Orchestre Bellemou (que ao colocar trompetes dentro das canções acabou inventando outra vertente na música argelina). Cheb Zergui foi outro pioneiro dentro do cenário, colocando guitarras e distorções dentro de tonalidades consideradas clássicas. A transgressão em forma de manifesto punk, de um país que se recusava aceitar os açoites de um tirano ignorante.
Os heróis argelinos já sabiam o que significava a palavra, antes mesmo de Iggy se lambuzar de pasta de amendoim ou os Ramones decidirem que não queriam nada.
Essa coletânea que você ouve na íntegra abaixo, é o documento seminal dessa nova genética dentro da música. 1970's Algerian Proto-Rai Underground (2008), mostra que a música pode ser revolucionária e libertadora. Ao mesmo tempo que influenciada, amalgama a capacidade de ser influenciadora. Não seria de graça que alguns anos depois, Jimmy Page e Robert Plant usariam todos os ritmos orientais em suas composições mágicas. Eles já conheciam o punk argelino.
Outra geração que resolveu não esperar pela iluminação de medalhões, foi formada por algumas das almas mais hiperativas do cancioneiro brasileiro. A Tropicália dos anos 60 e 70, deixara à margem da sociedade uma leva de músicos que não faziam parte dos circuitos mais descolados. E mesmo Os Mutantes abrindo as portas para uma leva de outros jovens lisérgicos, a televisão só queria saber dos festivais. Mas essa gangue composta dos primeiros exemplares de Absurdettes, não estavam nas telas televisionadas. Mas sim no campo de batalha, tomando quantidades cavalares de ácido e fazendo com que o tempo parasse.
Uma mistura de psicodelia com a mais caleidoscópica jovem guarda. Influenciados diretamente pelos ensinamentos learyanos, essa leva de bandas, cantoras e cantores, colocaram nuances de bruxaria nas claves (como Marisa Rossi e a canção Cinturão de Fogo) ou absurdos quase hilários como Cleio Ballona e o Tema do Batman. Por mais que se pense na característica cômica de certas notas, é inegável que as bandas retratadas na coletânea Brazilian Guitar Fuzz Bananas - Tropicalia Psychedelic Masterpieces 1967 - 1976, tinham a transcendência como forma genética mais purificada e louca. Seminais como The Pops e o Som Imaginário de Jimmi Hendrix ou até o clássico e eterno Serguei e a letra barrettiana na canção Ouriço.
Cavaleiros Jedis que transportaram por entre as notas influências que até hoje são usadas. Clássicos dos clássicos. Por essas e outras que tempos passados não vividos, muitas vezes parecem mais cheios de genialidades que salvam, muito mais do que os dias de hoje.
Como diriam Tom e Sérgio, Vou Sair do Cativeiro...

