6 de julho de 2011

Não, não esqueci que essa é a semana 100. Numeral que teve gênese lá atrás.
Isso fica posterior, vamos por enquanto lembrando esses dois anos....


Sentado em frente a uma tela fria de computador, divagando por entre as idéias confusas do seu córtex.
De repente sente um estalo, deslocando tua sombra com violência tamanha, que teu estado de latência parece atropelado por um boeing.

Pois bem....
Essa sensação será uma constante ao escutar o novo disco da banda Grizzly Bear, Veckatimest.
Parceirando-se com a idéia de que eles estão um passo à frente no mundo.

Desde o início com a estonteante Southern Point, onde uma confusão de batidas, lembram um grande samba enredo tocado do avesso ou com o piano da magistral Two Weeks. Você perceberá que não está diante de um mero disco de rock, muito menos um pop complicado. Na verdade é de extrema dificuldade definir em apenas um gênero.

Camadas seria a palavra mais adequada para usar como descrição.
Não são apenas faixas distribuídas ao acaso.
Momentos diferentes de uma experiência completa. Como por exemplo a faixa All We Ask, que passa inicialmente por uma balada lenta e mórbida, para uma sinfonia radioheadiana. E não será a primeira vez que você irá ouvir ecos de música clássica nesse disco.



Logo na faixa a seguir Fine For Now tem início vocais que se amalgamariam em qualquer ópera ou filarmônica, para depois colisões entre violões, bateria e guitarras mostrarem toda uma força maior que 1.21 gigawatts.
Entre um trovão e outro uma calmaria submarina.
Vozes posteriores com uma clara influência dos Beach Boys evidenciam o mosaico em todas as músicas.
O disco foi gravado quase em isolamento total em Cape Cod, isso se reflete no fato que existe uma calma inerente em cada música. Não uma líder, não existe ninguém seguindo ninguém, é a banda tocando com uma sincronia incrível.

Outra coisa é que eles trabalharam com a produção do baxista da banda Chris Taylor, o que leva a explicação de que durante toda a audição do disco, nota-se o quanto não houve pressão durante a gravação.
Imagina se nas mãos de algum desatento mago das mesas, seria possível as texturas todas de Dory.

Do mesmo jeito que talvez se a banda escolhesse um produtor externo, a falsa imagem folk que o disco tem acabasse sendo a tônica. E eu digo falsa não pejorativamente, existe sim uma aura mais caipira na bolacha.
Na verdade o trabalho da banda está muito mais Radiohead do que Bob Dylan. Prova disso é a magistral Ready, Able.
Esse pé no psicodelismo no início dos tempos, de faixas como While You Wait Fot The Others, que te leva por See Emily Play do Pink Floyd, não faz do disco uma coleção de influências, os ursos seguiram seu próprio caminho deixando citações serem apenas um rodapé.



Mostraram que a evolução natural em relação ao disco de estréia, não foi apenas uma mera caminhada para frente. Foi uma demonstração sensacional de amadurecimento tanto nos quesitos melodia, letra e técnica. I Live With You, talvez a melhor música do disco em 4 minutos e 58 segundos, é um carrossel de clássico, cinema, amargura e beleza que poderia ser indicada ao Oscar de melhor canção sem nunca ter feito parte de uma trilha sonora.
O disco novo da Grizzly Bear não é perfeito, por mitocôndrias de distância não é. Se Art Brut lançou o disco mais divertido do ano, eles criaram a melhor trilha sonora de sonhos.
Escute ao sol a épica Foreground.
Você vai poder entender a grandeza das coisas depois disso.