22 de julho de 2011

Estamos na metade do ano. Julho quase finito e o mundo continua à assistir ataques com bombas e armas de destruição em massa bem calibradas, na cabeças de jovens em campos plácidos noruegueses. Enquanto aviões de papel são jogados ao ar por campanhas da CNN, os discos continuam caindo na rede e deixando um rastro ventricular por entre os estribos e bigornas auditivas.

Mas já que estamos nessa metade finita gregoriana, o blog resolveu fazer mais uma das famigeradas listas com o que de melhor provavelmente aconteceu com as claves até esse momento em 2011. Um pequeno rastro formado por uterinas invasões sonoras, guturalidade de garagem e hemáceas em lava.

Vamos aos favoritos julhinos:


1) PJ HARVEY / Let England Shake.
 Dificilmente um disco poderá chegar aos pés da valquíria. Uma alquimia em aula de história, reflexão contemporânea sobre o papel de um país no mundo e uma crítica ácida. Tudo isso envolvido em canções com as melhores aulas de poesia do ano (por enquanto). São minutos onde sublimar o espírito por entre as notas é quase uma reação fisiológica do seu corpo.



2) CAGE THE ELEPHANT / Thank You, Happy Birthday.

Pessoalmente ele iria para o número 1, mas vamos pela imparcialidade. Os americanos desse quarteto não apenas conseguiram amalgamar em um só disco a crueza do punk, a veia mais suja do grunge, o lado mais obscuro da eletrônica e a beleza mais sensível do pop rock, como também conseguiram todo esse caleidoscópico em apenas um registro. Rápido como heroína que desce queimando as veias, esse segundo disco, lançado três anos depois da estréia, é uma das melhores pedradas do ano. Feito para tocar nas pistas e nos tímpanos fervorosos.




3) FLEET FOXES / Helplessness Blues.


Podem os críticos colocarem em bandejas as cabeças desses sensacionais músicos?
Pois por mais que se critique duramente o disco dos conterrâneos do grunge, uma coisa é inegável. Depois de Helplessness Blues tudo o que se intitula folk tornou-se obsoleto. Dolorido na alma em cada acorde e com uma esperança de beleza descomunal. Não existem barreiras de língua, raça, credo nas claves dessa banda. 



4) THE HORRORS / Skying.


Todo mundo pode chiar. Podem dizer que é indie demais, copiado demais. Mas a verdade sobre a banda é uma só. Conseguir um grau de maturidade que permita um disco possuir todas as canções boas é algo muito bem vindo (no mínimo). Os modernos ficaram mais velhos e conseguiram concatenar todas as equações oitentistas mais sombrias dentro do novo álbum. Vale ouvir e revisitar sempre.



5) THE MEN / Leave Home.


Em 2009 uma banda chamada The Future Of The Left fez com que o ano fosse metalizado, algum tempo depois a Kylesa percorreu o mesmo caminho e equacionou um maremoto de riffs doentios e perigosos. Na mesma linha, The Fall. Mas em 2011 um quarteto do Brooklyn prova que o peso é uma das primordiais possibilidades de respiração salvadora dentro do rock. Nervoso e perigoso. Nada sai ileso nessa audição, muito menos você.



6) UNKNOWN MORTAL ORCHESTRA / UMO.


Rock para dançar e ponto. Funk com gosto em sépia e uma velocidade descomunal. Uma coleção de hits não radiofônicos e suingue de sobra. A estréia da banda que nasceu quase sem querer, não poderia ser melhor. O disco começa com malemolência divina, mas não há marasmo que resista aos acordes de canções como Nerve Damage, How Can U Luv Me e Funny Friends.



7) WYLA / Dulcett.


Edward Mill foi gerado separadamente, mas poderia ser irmão de Syd Barrett sem a menor dúvida. O disco de estréia dessa banda é uma das melhores surpresas do ano. Tonalidades que não regurgitam nenhuma psicodelia, cria uma nova forma de pensar os acordes. Riffs com febrículas laminares que extrapolam o óbvio e ácidos liquefeitos em forma de notas.



8) SLOW LORIS / Routine Glow.


A beleza do etéreo nesse disco é algo surpreendente. São calmarias em formas quase binárias, recobertas pelas surpreendentes alquimias entre opostos. Não existe marasmo, muito menos a incapacidade do destoar. Nada pode ser mais do mesmo dentro da cabeça de Wes Doyle, o literalmente menino por trás da banda.




9) STELLA DIANA / Gemini.


Esse disco entra na lista, pois foi lançado em janeiro de 2011 na terra natal da banda (Itália). Não poderia-se imaginar uma melhor reunião shoegaziana do que a encontrada nas faixas desse registro. Tem todos os aspectos em cinza, mas com uma quantidade assustadora de catividade. Faixas não apenas barulhentas e altas, mas sim de uma beleza ímpar dentro da cena roqueira esse ano. Vale cada segundo.



10) LE BUTCHERETTES / Sin Sin Sin.


Não saiu ainda da boca pequena, mas por acaso já encontra-se nas melhores lojas de vazamento. A estréia dessa equação uterina mexicana corre o risco de também entrar na categoria lançamento do ano. Mas o chover modernismos baratos pode fazer o disco ser esquecido. Um engano nada bem vindo, afinal de contas Teri Gender Bender, seus acordes doentios e histórias sobre a força feminina, não são apenas pequenas histórias.



11) WHRIL / Distressor.


Reinventar um gênero não é algo que seja fácil. A banda de Oakland chega com os dois pés na porta de 2011. Um disco com todas as sombras necessárias de um shoegaze que não é repetição, muito menos descartável. Algo que desce como navalha pela garganta, mas tem suavidades que são indispensáveis.



12) CHAPEL CLUB / Palace.


Outro caso de banda estreiando que deixa no ar um que de sensacional. O hit Surfacing nem é a cara desse disco, muito mais denso e cheios de referências históricas. São arranjos entalhados e de uma força que pode mover camadas e mais camadas de placas tectônicas. Poderoso na medida certa e com uma aura divinamente infernal.