3 de agosto de 2011

Escrito por Fabio Navarro e Junior Bellé.


É preciso pensar como espécie.
Aquela que queremos, que propomos, que lutamos, não se esconde mais no esquecimento dos porões, maturando sem luz, criando guetos ilhados em sombras, distantes por brumas, aproximando-se aos pedaços e insurgindo como um grito solitário entre os raros. Crescendo como monopólio de uma só esperança.
Esqueça qualquer hegemonia da alma, informação, da esquerda ou da direita.
Queremos o impacto da pluralidade e somos fiéis a nossos desejos. O sol ricocheteando no rosto dos quaisquer e iluminando as alturas, o alto dos gritos altos reverberando sem medo, sem rancor. Reverberando a certeza da dúvida e a coragem em não conformar-se nela, humildemente consumir-se por ela, gotejar-se nos cotejos indecisos dela.


Imperativo é ensolarar-se.

Não queremos os porões, queremos as ruas. As alturas. Não queremos o isolamento, mas o abraço. Não queremos sussurrar nossas verdades, e sim esbravejá-las, cantá-las, poetizá-las. Não queremos esconder os rostos, os cantos, queremos a nudez impertinente das caras à mostra. Alardeando, pulsando.
Propomos, assim, a superação do underground pelo upperground, seu primogênito, a melhor pista que temos, pista viva e mutante, viva e intermitente na busca pelo Bóson de Higgs da cultura, o resultado de uma fissão tropical do underground com a pós-modernidade. E a colisão dos corpos aconteceu numa tarde ensolarada quando, encantado pela visceralidade da internet, a boceta úmida da pós-modernidade, o underground gozou sua rebeldia seminal emprenhando-a com um pouco do seu futuro.

Propomos que a percepção da existência do upperground, e sua concepção como escolha consciente, seja pensada como uma posição política no jogo da evolução. Pois ele está flanando no ar clamando por uma mirada de atenção, consumindo-se, ansioso, até que tropecemos em sua persistência. Pois a evolução que nos foi dada já não basta. As ecdises juntam-se, vão na direção da superfície. Os pés vão na direção do portão, não pela violência, mas pelo amalgamar da informação. Se “o ser humano é a forma que o Cosmos encontrou de conhecer a si mesmo ”1, como poetizou Carl Sagan, se desenvolvemos consciência e dela nos fazemos dignos, precisamos estender essa consciência para nossas escolhas como espécie com igual potencial para evoluir exponencialmente, como para findar-se em sua própria ignorância coletiva.

Espécie que evolui de maneira diferente do nosso antepassado underground. Em seu tempo, as mudanças ocorriam em escuros porões. A sombra então necessária para mudança hoje pede o sol das ruas. O upperground anda por entre a claridade da estrada, não mais pelo lado escuro, território que conhece.
Ensolarar-se, pois.

Inexiste a busca pela mudança do mainstream. Em dias de adaptação acelerada e volátil, a procura pelo seu nicho cultural influente é moldada por cada ímpar ser humano ao criar seu mainstream idiossincrático viralizando-o pela helicoidal binariedade. Não é mais necessário lutar em lados opostos, mesmo quando sabemos que ainda hoje existem os que buscam por hegemonia de esquerda, logomarca de refrigerante em passeata.


Isso não evolui, não amalgama. O upperground mira com lente de sniper no peito do mainstream esperando o momento certo para o disparo de enganos e flores. Não é necessário apenas movimento, adjetivos. O que interessa é a espécie humana. Uma aglomeração de mainstreams individuais que são capazes de ascender na direção da superfície. Uma fusão poderosa de idéias que não são patrocinadas por coletivos, são coletivos. São sins, não estes nãos formados por claves que não ressoam canções, mas a monetarização da vida.
No underground, nosso ancestral contemporâneo, as informações eram datilografadas para poucos viventes que acordavam mudando a história. A atual velocidade de tráfico de informações varia entres zeros e uns numa esquizofrênica seleção de interesses em comum. Tudo acelerou insanamente e há um cronômetro ao seu lado, no mais macabro jogo de xadrez, você precisa escolher o movimento certo, você precisa escolher o movimento certo. E rápido. A velocidade faz os embates cada vez mais constantes e tal constância dilui-se em micropoderes, o ringe de rotineiros e persistentes embates.

Existe uma delicada linha que separa o trânsito livre de informações do controle do pensar. Quando o underground nascia e desenvolvia-se, havia uma luta definida contra o mainstream operante e vigente. E também o persistente desejo de equiparar-se a ele, integrar-se nele. Seja este mainstream musical, intelectual, militar, conservador ou até de direita. O embate resumia bem dois lados distintos. Hoje esse tipo de confronto não cabe mais.
Datada luta.

Agora não existem apenas dois lados. A informação como moeda poderosa de troca entre nações e culturas não concebe apenas o yin e yang político cultural. Existem dezenas, centenas, quiçá milhares de agendas, idéias, posições e lutas.
Não há mais dualidade.

O que há é pluralidade, e ela, compadre, está do nosso lado.
Essa pluralidade se constitui de inúmeras, rotineiras e persistentes batalhas entre dominadores e dominados, uma guerra travada, vivida, sonhada em micropoderes. Por isso: escolha a trincheira que te cabe e faça sua revolução. Sabemos e aqui expomos o nosso lado da trincheira. Mas o que há do outro lado? Quem são os dominadores e como eles exercem seus micropoderes?

São aqueles germinados na definição platônica dos detentores da sabedoria no Estado. Em A República, quando o filósofo descreve sua tarefa em encontrar a luz evolutiva, a busca começa pelos valores como sabedoria, coragem, moderação e justiça. Interpelado por Glauco sobre o conceito de sabedoria em ascensão, Platão define que ela só pode existir dentro do Estado, em poder de uma minoria: “A ciência que reside na menor parcela do Estado, daquela que domina e comanda, que um Estado fundado de acordo com as leis da natureza deve sua sabedoria. Quer-me parecer que compete ao grupo muito menos numeroso compartilhar daquela ciência que é a única entre todas e que merece o nome de sabedoria”.4
Mas hoje existem mais ferreiros que artesãos.

Então, porque suportar essa ecdise controlada? Por que ainda querer suportar? Hoje a tal ciência, a sabedoria, está a um clique dos mortais e sua fatal e incrível curiosidade. Vamos lá, olhe em volta, use a cabeça, deve haver uma forma de escapar da caverna. Agora Platão está morto.


 Ele foi uma das vítimas do jogo da evolução, ele é um mamífero pertencente a uma espécie impertinente e cheia de potencialidades inexploradas, mamífero que corre um risco extremo de extinção caso não se dê conta que a evolução não mais pede o lado obscuro, o úmido dos porões, e sim a claridade de quem permanece nas ruas, de quem reivindica as ruas. De quem coloca a cara na rota de colisão de bombas de gás e sente o perfume do spray para chorar ardume.

O dominador, que mantém o controle por seguidas vitórias e exploração em micropoderes, é esse conjunto de forças coercivas que levam um sujeito a ser um grande filho da puta. Por que não é possível alguém ser um grande filho da puta o tempo todo de verdade, a natureza não é uma grande filho da puta o tempo todo e não pariria algo assim por pura sacanagem. Ela é evolucional. Tem ciclos que também são nossos. Assim, chega um momento em que a consciência pode ser uma variável no jogo da evolução, talvez uma variável importante. Podemos fazer escolhas racionais que influenciarão a forma como evoluímos como espécie cheia de falhas, desvios, virtudes, potencialidades e medos.

Tá certo, isso é um baita hippismo rude, caipira, daqueles que deixam pedaços de alma pela terra cheirando restilo. Mas a natureza não é uma terrorista, tampouco uma maníaca suicida. Mesmo quando tragédias acontecem levando consigo os mesmos seres tão castigados pelos amorais dominadores, somos nós os maníacos suicidas. Aprendamos o equilíbrio com ela, afinal, somos um pouco ela também. “É, de fato, bastante plausível considerar ou conceber o mundo vivo como um mundo que gasta energia para assegurar permanentemente as suas próprias condições de existência”, escreveu Murray Bookchin em “Sociobiologia ou Ecologia Social?”. Ele defende sua tese de como a natureza se equilibra no jogo da evolução com as palavras do biólogo Willian Trager: “o conflito que existe no seio da natureza entre organismos diferentes foi vulgarizado pela expressão a ‘luta pela sobreviência’ e a ‘lei do mais forte’.

Mas poucas pessoas se deram ainda conta que a simbiose, isto é, a cooperação entre organismos diferentes, ocupa lugar tão importante na evolução das espécies como o conflito. O ‘mais forte’ e, no fundo o ‘mais apto’, pode muito bem ser aquele que maior capacidade tem em ajudar os outros organismos. Usando um processo que ele muitas vezes desconhece, auxila outras espécies à sobreviver.”2

Ou seja, no amalgamar da evolução, o compartilhar, o cooperar pode ser nossa principal carta, e ela precisa ser jogada na mão da consciência. Propomos o upperground como uma escolha consciente de suas limitações, um ordenamento evolutivo em potencial que captamos enquanto flutuava leve pelo vento denso da contemporaneidade. Não se trata de um movimento ou uma nova sigla repleta de politicagens traquinas, daquelas que amontoam padrões repetidos e escondem em seus golgianos complexos rugosos uma infindável e fétida ideologia de divisão.
Upperground é uma energia que anemofiliza cada semente de idéia que possa nascer por entre os seres. Não é uma sigla que se coloca em bandeira vermelha ou amarela, azul anil. Não precisa de escudos ou armas, tanques ou sombras. O que se faz necessário para que essa palavra ganhe vida é o simples respirar. Perceber em suas células que existe a possibilidade do sonhar com coisas maiores que a letargia do viver nos buracos, atirando pedras na superfície.

Uma mudança que começa na ultrapassagem do underground. Com uma ação concreta em direção ao céu. Sair de sua própria cova, enterrada em mais de sete palmos e submergir mais forte.
Não pregamos a revolução digital, um suposto hyperground não existe.

É complementar.
Fóruns e grupos dentro da rede são facilitadores da luta, e não a luta em si. A evolução individual precisa ser coletiva. O caminho de hoje leva à paredes que desabam na seminalidade. Não serve, pois ela é medida pela capacidade de adaptação ao meio. Algo que é inexistente na conduta desse ser humano atual. Adaptados estaremos quando não formos mais uma completa ameaça a nós mesmos. A mudança nasce da única coisa que não tem credo, cor, raça, religião, sexualidade, escolha ou qualquer tipo de agenda.  


O upperground é, essencialmente, a miscigenação da cultura, da cultura de transformação.
E ela nasce livre.
Em cada um.


E sobre liberdade, a entendemos assim: “Ser livre, para o homem, significa ser reconhecido, considerado e tratado como tal por um outro homem, por todos os homens que o circundam. A liberdade não é, pois, um fato de isolamento, mas de reflexão mútua, não de exclusão, mas de ligação. (…) Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade do outro, longe de ser um limite ou a negação de minha liberdade, é, ao contrário, sua condição necessária e sua confirmação. Apenas a liberdade dos outros me torna verdadeiramente livre, de forma que, quanto mais numerosos forem os homens livres que me cercam, e mais extensa e ampla for sua liberdade, maior e mais profunda se tornará minha liberdade”, 3 BAKUNIN, Mikhail.

A liberdade, como qualquer direito, é campo de disputa, por isso novamente sugerimos: escolha a trincheira que te cabe e faça sua revolução. Por que a liberdade nasce dentro de cada um a partir do momento que se toma consciência dela, de sua existência como potência avassaladora da vida. Como gene da vida, é individual; como princípio basilar da sociedade, é coletiva. Ou seja, a liberdade é tão porção genética do indivíduo quanto a coletividade é da genética da liberdade. Só pode existir quando tomamos consciência dela respaldados pelo outro, um pensamento de espécie é uma instância coletiva de consciência.

Sendo coletiva, é também plural. E como lidar com essas diferentes liberdades, com essa pluralidade do ser livre? Para o upperground, a libertação dos preconceitos é inevitável.

O não pré conceber sobre a liberdade do outro é primordial para que a própria liberdade possa ser usada como ferramenta de fusão. Não é apenas o somar de seres livres, mas sim vontades, idéias e conceitos de cada indivíduo que cria a sua própria consciência do ser.
Tomamos consciência de nosso ser quando diferenciamos o nosso eu do eu estático, aquele sem movimento de existência, o eu em vácuo, o eu inconsciente vagando pela vida como um solitário pedaço de rocha pela galáxia. Quando conseguimos ver que o outro não é apenas mais uma folha em branco, parada em mata borrão.

  O filho genético do underground só pode ser construído por esses seres conscientes de sua liberdade. Apenas através deles é possível produzir a informação necessária para expandi-la e fortificá-la a ponto de sua amplitude torná-la verdadeira. E neste ponto, a velocidade do tráfego de informação pode ser uma arma poderosa e favorável.

Ela é a mola mestra para que o upperground fosse possível como idéia viva, que somente agora recebe reflexão em conceitos subjetivos. Não existem mais barreiras geográficas no trânsito livre de idéias, sonhos e ações.
Hoje a distância inexiste.
O conhecer é traficado de maneira rápida e visceral. Culturas, línguas e idiomas. A informação conhece rodovias mais livres e trafega com outra facilidade. Sabe-se onde escavar por músicas, filmes, textos.
Do mesmo jeito que os locais onde as ideias são fundidas em sinapses férricas, bares, festas, aglomerações.
A informação que construía as mudanças de outrora são as mesmas que produzem essa proposta de evolução hoje.
A rapidez com que ela é transportada é o diferencial.

E neste ponto dois ramos da mesma árvore genealógica conhecem uma semelhança. Afinal, todo filho, por mais rebelde e contemporâneo que seja, carrega na genética um tanto do pai. Uma dessas semelhanças é a geografia dos encontros, as moradas onde acontecem as fusões de alma. Bares, festas, hotéis, estúdios, apartamentos. Hoje esses mesmos lugares com novos nomes, latitudes e longitudes também possuem a profusão de seres suficientes para que o movimentar aconteça.


E ele acontece, acontece pelos encontros, que acontecem pela música, amplo aspecto da natureza humana. Sinuoses simbióticas onde a troca mais seminal dissemina-se.
Canções que destoam do amplo marasmo em sal e água que corrói os mesmos dominadores. Seus dominadores mais castradores, castradores por eunucos que são. Pela música escorrem essas únicas e singulares curvas, formadas em genes com simetria desconexa.

Mais do que as guerras, que promoviam evoluções tecnológicas e biomecânicas, claves arrematam as sinapses humanas, mudam cada centímetro de seu ser, são geradoras de rupturas criativas. Ora dolorosamente, outras com largos sorrisos. Entre abertas portas de uma percepção que já deixou a entrada para trás.
Andou em frente, mudou.
Abrindo caminho por entre as notas. Promovendo uma evolução constante.
Ouvido por ouvido.
Letra por letra.
Axônio por axônio.

Esta ligação que a música faz entre esse par de conceitos, na verdade nasce em uma constatação.
Atenha-se ao fato: assistimos hoje à bandas históricas. Vivemos em passagens de tempo que também permitem a visualização e compreensão de sonoridades que permanecerão entre nós, por tanto tempo quanto as do nosso passado.

Existe a idéia fixa que nos leva por entre corredores de poeira, sentindo os nervos apertarem, por saber que existem células ligadas intimamente a cada acorde de Floyd, Beatles, Stones, Hendrix, Zeppelin, Billie, Eta, James, Kinks, Sonics, Animals, Ramones, Stooges, MC5, Reeds, Nicos e Velvets.
The Music Machine, Elvis, Chuck, Little Richard, B.B. King, Aretha, Diana, Jackson 5, Doors, Marley, Muddy, Robert Johnson, Parliament Funkadelic, George Clinton, Talking Heads, AC/DC, Zappa, Barrett, Joy Division, Os Mutantes e The Specials. Beach Boys, Patrulha do Espaço, Secos e Molhados, Casa das Máquinas, Terço, Premeditando o Breque, Grupo Rumo, Jorge Ben, Tim Maia, Erasmo e Roberto. Tonico, Tinoco, Cascatinha e Inhãna, Maysa, Elis e Chico. Vinícius, Gilberto.
O Gil e o João. O Jardes.Torquato.
Arnaldo, o Baptista e seu irmão lisérgico Rogério Skylab. Maurício Pereira.
Von e Vandré.

São esses anciões trovadores que nos avivam as lembranças de amores, mudanças e revoluções.
Uma outra legião de luzes, mais antigas.
No underground existia a música, e cabe ao upperground também ser morada de notas em forma de história. Aquelas onde não existe a dominação de um perante o outro. Onde as amarras não são vivas e a propagação das idéias corre contra qualquer exército, e até contra você.


Claves que escalpelam todas as tentativas de putrefata ação dos senhores da verdade, com suas agendas equivocadas sobre um mar de analgesia. São as canções que tem força como um poema, uma mensagem, arrebatam o sentimento mais profundo dentro de um ser humano. Braço de alavanca poderoso da alma.

Hoje assistimos uma história feita por domadores de notas que serão os faróis do passado para a genética do futuro. Uma linha de vida que poderá ser vista por milhares de gerações adiante. Bandas que mudaram o rumo da música e conseguiram mostrar que a liberdade não pode ser completa se possuir amarras.
Sejam elas leis feitas pelos senhores de corporações ou as do consevadorismo disfarçado de diversidade que o mainstream por muitas vezes propõe.

Esses novos heróis em quadrinhos, formatados por seres humanos, sugestionadores de seres humanos andam por entre nossas mentes e ricocheteiam em nossas retinas. Caminhando pelo mesmo planeta que clama por mudanças, escrevendo em partituras tudo aquilo que liberta a víscera dos grilhões.
Eles já sabem.

Dentro dessas canções também encontra-se a faísca seminal do entendimento sobre como nosso pensar faz do pensar do trovador moderno um backing vocal. Canções em clarões de consciência. Notas que evoluem na direção da superfície. Essa é uma seminal genética do upperground.

Esses novos paladinos sonoros mostram que o livre pensar e construir é algo necessário para a evolução.
A mesma possibilidade de formular idéias, conceitos, sonoridades, versos existe dentro de cada um.
O pensar livre que provoca a busca do ser humano pelo sol, fotossíntese, o calor e as coberturas dos prédios.

A transmissão elétrica neuronal que desencadeia a fornalha do pensamento em direção à fusão com o outro. O upperground é seminalmente formado por isso. A mesma genética que buscamos em nossas bandas do passado, traduzida pelas canções que hoje estão ao seu lado, no fone de ouvido e na caixa de som.
Não podemos deixar que os velhos zaibatsus comandem o evoluir. Isto é nosso dever e direito.
Como escreveu Perec: “A indiferença é inútil (…), sua inércia é tão vã quanto a sua cólera”.5

E foi durante uma canção em que um trovador moderno cantava “hoje é dia de dizer que o amor convém”6, que o upperground soou como palavra pela primeira vez. Foi dita em cima de um prédio, num show no apartamento onde o número não aparece no elevador.
Cognifeccionada e proferida por um senhor sem nome cujo absinto do sangue absorvia a aura em torno numa combustão intelectual. Um rosto, um pensamento. O estalo de uma sinapse centelha que em lava fundiu o caldeirão de novas palavras.

O upperground nada mais é que conhecer a existência de outro ser humano e usar a imaginação do saber que se é ser, para conceber uma ecdise em conjunto. Buscar o chão firme e quente da luz, na direção da superfície.
Resta então o caminhar.
Estão todos convidados. Matutamos um pouco sobre o momento cuja experiência visceral vivemos, vimos, vislumbramos e richocheteamos com nossas referências, quando o baque nos acertou evidenciando uma conexão sincera, subjetiva mas sincera.
Mas o caminho para o ensolarar-se requer o encontro de nossas ecdises. Por isso amalgame suas idéias ao final dessas linhas.
É preciso evoluir como espécie….