11 de agosto de 2011

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GD 105 AS RAÍZES DO DESERTO....


Quando pensamos no navegar ao redor de sonoridades conhecidas, existe a possibilidade do encontro recoberto em marasmo da terra mãe. O mesmo local que expurgou sua vida do útero materno, em uma terra centenária para seus pais. Apenas uma desconhecida e distante idéia cravada em sua pele amniótica.
Origens fazem parte do chamado dna externo que você carrega pelo tempo, celebrado em poeira evolutiva.
Lugares podem até deixar marcas profundas, mas a estrada sempre levará você aos sons, gostos e gestos familiares.

Não existe a menor possibilidade dessas idéias pintarem na sua retina uma imagem roqueira. Mais como uma católica descrição do seio social familiar careta e contemporâneo.
O ledo engano apenas mostra que a surpresa é outro fato inevitável na vida.


Como é de praxe, o show comandado por Anthony Bourdain tem essa aura quase matriarcal de acolhedora redenção. Como se os programas ditos culinários pudessem transcender sua própria alma quase esquelética de pleonasmo.
Não existem receitas pré fabricadas.
Apenas pessoas e suas histórias de casa.
Saciados por toneladas em garimpo alcoólico e ácido, aterrados pelas raízes de alguma coisa maior do que a própria alma. Uma salgada gota de lava que escorre, envolta por conversas na mesa do bar.

Por mais lugares e continentes visitados pelo chef, escritor e apresentador, sempre existe pelo menos um segmento onde Bourdain é acolhido por uma família local e saboreia uma eternidade de memórias fotográficas-culinárias e históricas singulares. Algo que cria um descompromisso genético nas cenas do programa. Uma capacidade em tornar o inverossímil em palpável.
Mas dessa vez o apresentador dilui-se seminalmente nas veias de sua criação. Fez um show inteiro dentro da casa de uma pessoa.


No Reservations tem uma aura de inusitado, por mais bem produzido que seja.
Mas, existe algo que aproxima o convidado desse segmento inteiramente filmado no deserto californiano ao espectador.
Morada de horrendas cascavéis e bebidas hipnóticas, que dessa vez apresenta-se com uma anuviada aura acolhedora.
Talvez seja porque Josh Homme tenha esse ar de vizinho arruaceiro e gente fina.
Ou porque quando entram em fusão atômica um grande apresentador, um genial músico e o lugar certo, a única obrigação é deixar-se levar pelo fluxo.

Apresentando o famoso Rancho de La Luna onde clássicos foram gravados e colocando em pauta a vida de garoto do interior. Não existem os holofotes ou gritos alucinados, apenas a postura crua e seminal dos acordes. Talvez a palavra rock and roll seja na verdade uma extensão de tudo aquilo que te faz sólido.
E essa é a tônica do encontro.

São três segmentos, trinta e poucos minutos onde a visceralidade do álcool e a calmaria holística da serpente trocam genes.
O resultado não poderia ser outro.
Uma visita entre amigos, mesmo assim televisão de extrema qualidade.
Além da conversão pelo bacon e uma trilha sonora de primeira.