14 de setembro de 2011

GD 111. A ESTRÉIA LISÉRGICA....


Existem perigosas temáticas envolvidas em tudo o que relaciona-se com a música. Outrora dificuldade em obter-se o supra sumo das claves, hoje é substituída por inúmeros blogs e reblogs. Milhões de códigos binários que transcendem fronteiras. Ao mesmo tempo que elucidam, podem traduzir um amontoado de vernizes que apenas recobrem velhas sonoridades. Comparação inexata de décadas e anos não pode tornar-se a tônica.


Nem por isso deve-se não ouvir o barulho disponibilizado por esses tavolantes gravadores sonoros binários. Mas como qualquer droga, deve-se usar com parcimônia. O que fica evidente no caso dos mais novos queridos da crítica além mar.

NERVES JUNIOR é uma banda de Louisville. Nascidos em terras que exprimem por muitas vezes a aridez dentro dos sons, existem milhares de nuances diferentes em cada canção do álbum de estréia. Lançando em seis de setembro último e com audição completa liberada. As Bright As Your Night Light tem um poder inicial de impacto que não reside em nenhum outro lançamento esse ano. O poder da confusão mental ao auscultar as notas.

Por mais esteriotipados dentro do terreno fértil da psicodelia binária (iniciada com a dupla de irmãos Kid A e OK Computer) que os temas da banda pareçam, a originalidade das composições é algo assustadoramente cativante. Não são apenas músicas, são colocações que deslocam sua capacidade de antecipação. Não existem saídas que possam ser chamadas de óbvias e a beleza de certas tonalidades (como na canção Downtown Lament) é algo que há tempos não emocionava certos ventrículos cardíacos.


Mas não é apenas rotacionando de maneira mais vagarosa que a banda relata anunciações de grandeza. Todo o álbum é formatado de maneira inesperada. As colocações da eletrônica são enigmas que devem ser vistos e relidos durante o dia. Mesmo com a regurgitação muito pesada de milhares das estações empíricas dentro do rock. O vocalista tem uma cadência física parecida com Ian Curtis, inclusive na maneira com maneja o microfone (o vídeo da canção Kale mostra isso com bastante definição). A banda reprocessa riffs greenwoodianos dezenas de vezes pelas canções, com por exemplo Nails To Scratch With e In Absentia (essa inclusive maturada em The Optimist / Kid A).

Mas existe algo a mais. Uma indefinição dentro dos sons, uma separação do corpo e da alma durante a audição. O disco foi feito para repetidas releituras e soa de maneira diferente em cada hora do dia. A noite é claustrofóbico, durante o dia é de uma beleza ímpar. Get Left In The Dark soa sempre melhor cada vez que você ouve e as vocalizações passam de insuportáveis à celestiais em questão de segundos.

Não existe uma só nota dentro da Nerves Junior que seja inédita, mas esse cubo mágico de canções é arrumado para que sempre exista a originalidade. A banda usa esse paradoxo com uma maestria que lembra por muitas vezes a estréia de outra equação octaedracubana chamada Tame Impala. São leves hipnoses quase tão alucinógenas quanto uma baseado feito de sálvia.
Aliás a semelhança entre a erva dos coiotes lisérgicos, parece ser a definição que mais se adequa nesse álbum. O primeiro cigarro pode até não ser nada demais, mas assim que você traga aquela fumaça azeda e indígena pela segunda ou terceira vez, é possível caminhar por estradas flutuantes desenhadas em quadriláteros repletos de crocodilos amarelados e surfistas.

São viagens ilimitadas e cada vez maiores. Detalhes que são descobertos por terrenos que o rock em 2011 parece ter esquecido, mas a banda lembra seu cérebro de maneira mais aguda possível. Não existe definição para o som.
Como uma hidra assexuada vagando em plasmas oceânicos arroxeados, as canções despertam áreas cerebrais que apenas montam campana dentro do seu viver. Por muitas vezes cortam como cocaína sua narina, por outras milhares de vezes abençoam uma paz holística que treme os nervos mais endurecidos.

Como por exemplo a canção Luciferin, que despeja substâncias em suas fendas sinápticas em diferentes matizes de cor. São estruturas adormecidas que acordam por entre um transe hipnótico peyotiano. Uma navalha que corta sua alma de maneira tão aguda, que seu centro de gravidade não poderá ser nunca mais o mesmo. Por entre confusões dentro do mundo repleto de novos messias e mecenas, uma banda que transborda distorção de alma em figuras assimétricas.

Ouça abaixo a estréia.