15 de agosto de 2012

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Alucinados de plantão


 Não existem mais bandas como as de antigamente, e você, redentor nostálgico do País dos Peixotos, pode até passar por essa afirmação sem errar muito. Porém existem alguns dessaranjos dentro dessa catarse humana chamada ventrículo esquerdo que destoam do muitos inúmeros erros. Não mais espaço existe para alpendres alucinógenos que não sejam catapultadores de sinapses caleidoscópicas. São guitarras atormentadas por serras elétricas, pulsos vulcânicos do desejo escuro dentro de um banheiro sujo. A cinza de cigarro que escorre na pele úmida de suor e sêmem.

São bandas como Eagles Of Death Metal ou Queens Of Stone Age que transbordam essa veia, nesses tempos de remixes e belzebús modorrentos. Agora, irlandeses querem tomar um pedaço desse território com muito mais do que apenas cervejas pesadas e carnívoros almoços.

Os Cheap Freaks nasceram em Dublin. Um cartel, alvoroço por entre guitarras secas, pesadas e claves canastronas. Quase um crampiniana viagem sem volta aos portais do inverno verde com duendes consumidores de cocaína azulada. O novo disco - Bury Them All - é morada de poemas haikais em ejaculação precoce de versos. Petardos como a inicial Naked In The Rain ou a propulsória Cryin' Shame são obrigatórias em qualquer churrasco marinado em sedas e ervas plácidas. Não espante se regurgitações envolverem seus auditivos canais, lembrando pancadas de Spencer e sua explosão de blues. Mas não espere uma seriedade midiática e chata, como em seu conterrâneo Bono. A banda assombra pela rapidez, mas deixa claro que nada passa de uma sórdida piada, levada seriamente, mas uma piada.

Por entre as canções existe a malemolência do ser perdido. Um canto oco de contestação absorvido pelo fígado marinado no álcool. Dor de cotovelo de sá, como na quase wandônica Cruel World. Se existe um raio, estrela e luar, essa canção é a pá de cal no cotovelo perdido da amarga sensação do vazio amoroso pela vida. Mas a urgência em ser desesperado logo volta com Asahara's Nightmare. O disco segue sem respiração entrecortada por momentos de lucidez. Como deve ser qualquer bolacha sem pretensão alguma, primordial é tocar cada vez mais rápido e alto. Isso a Cheap Freaks faz, e o faz bem feito.

Sedentarismos inexistentes estão em cada acorde, sem pausa, sem marca que não seja as mãos em sangue e os dentes batendo na mesma velocidade de seu tronco encefálico. Límbico sistema de vazão, o pau a pulsar por entre os delicados dedos, que trêmulos, esperam não serem supreendidos. Músicas que corroboram com a vontade em ser mais do que apenas uma nova banda. Um começo promissor - mesmo porque esse é o primeiro registro completo da banda, que possui apenas um EP e um single -  com canções que escondem os segredos da meia luz.

Ouça com urgência e mais uma vez foda-se o Bono Vox...