31 de outubro de 2012


Uma freira que guarda em seu armário artefatos que deixariam corada até a mais ninfomaníaca dominatrix, um cientista ateísta age com a benção de um padre ambicioso e arrogante, lobotomizando e decapitando seres humanos ratos de laboratório in vitro, este cientista possivelmente criou um assassino canibal que logo na primeira cena arranca o braço do vocalista da banda Maroon 5, Adam Levine.

Uma submissa serviçal que gosta de abaixar sua batina e levar saraivadas em seus glúteos quando peca, a paciente ninfomaníaca que perfaz sexo oral nos funcionários do hospital.

Se você acha que só isso bastaria, ainda existe o anti herói acusado de ser um dos piores assassinos seriais de todos os tempos -sua técnica consiste em esfolar vivas suas vítimas -, mas que pode ter sido na verdade abduzido por alienígenas e sofrido terríveis experiências.

E não é só: a heroína lésbica acorrentada pela freira dominatrix no asilo para insanos, onde passará por uma lobotomia para pagar pelos seus pecados homossexuais e também por bisbilhotar onde não deveria. Acabou? Não.

Ainda temos um suposto clima romântico o anti herói e uma menina acusada de esquartejar a própria família.

Depois de tudo isso você já pode considerar-se apresentado ao início da nova temporada de American Horror Story / Asylium, segunda temporada da sem sombra de dúvida melhor série de tv desde Lost.

AHS tem aquele ar de saudade que residia na genética de Lost. Quando as primeiras imagens do primeiro episódio começaram, era como se velhos amigos estivessem retornando ao cerne mais obscuro de nossas almas. Será primoroso acompanhar Jessica Lange em mais uma atuação soberba como a freira que tem luxúria de sobra para todo o Vaticano. Aliás Ryan Murphy já dissera em entrevistas que essa temporada era especialmente criada para a atriz. Chloe Sevigny tão confortável no papel de ninfomaníaca do sanatório, a esconder escuros entrecantos tenebrosos.

James Cromwell e Joseph Fiennes em atuações exatas e fantásticas como os irmãos Grimm de um matadouro coberto por ciência.

Mas a questão nem é essa. Muito menos as maravilhosas citações que a dupla de criadores Ryan Murphy e Brad Falchuk de O Silêncio dos Inocentes (a cena onde um paciente joga esperma em Jodie Foster ou o modus operandi de Little Bill) ou Laranja Mecânica (o sádico doutor que promove lavagem cerebral para mudar o comportamento criminoso).

O que ferve suas sinapses é a formatação da linha do tempo da série. Mais uma vez a história acontece em duas realidades, o passado e o presente. Os fatos ocorridos no agora são formados por pequenos cristais caleidoscópicos de outrora gotejados em cada episódio. A tensão é tamanha dentro do roteiro que até o simples abrir uma barra de chocolates pode causar hipertensão nos desavisados. As insanas revoluções anarquistas da história - a hipocrisia da Igreja, o terror da corrida tecnológica desenfreada desenhada na tez do médico sádico -, são apenas algumas das mensagens subliminares escondidas dentro do genial texto.

Muito mais tenebrosa, caminhando pela tênue linha que divide o terror da sociopatia desenfreada, American Horror Story em sua segunda temporada coloca o sistema Lost em rotação outra vez. Um episódio com pequenos pedaços da história e cinco milhões de perguntas. Isso tudo embebido em uma velocidade avassaladora que faz com que você não consiga desgrudar os olhos da tela. Enquanto na primeira temporada a lentidão da trama canalizava a tensão até um ponto de explosão, aqui tudo é muito mais visceral e cortante. A violência é mais gráfica, mas não gratuita. Corrobora com o terror que você passará dentro das cenas.

Prepare-se para mais uma vez pular do sofá repetidamente.