4 de abril de 2019

Bateria

Enquanto as vidas resistem n’uma guerra de palavras
onde cadáveres são velados ainda vivos
andamos pelo trajeto dos antigos transportes públicos privatizados
fragmentos de pensamento
de salento
esquecimento

A miséria que faz algo vivo d’alma
enquanto um Monstro atira no teu ser a tela
de branquidão cartesiana covarde e não libertária
reflexo da auto imagem heteronormativa autoritária

Sombras que perfazem pernas em cimento
cantos verdes em ângulos
semi retos
semi secos
dos assimétricos sons d’um Garoto A
trombetas a subirem escadas rolantes
fantasiadas de fuligem, fantasiadas de vida, fantasiadas de mérito
fantasiadas

“it’s all along…it’s all along…”

Pilares que refletem cores dos extintores
tropeço no calçamento o corpo em inércia
rompe a garganta
enquanto flutuamos em aço, rancor & distopia
com olhos cravados na terra
da esperança no desabamento
órbitas focadas nas cores prediais do século dezenove

Todas as lágrimas não derrubadas na Luz
danças primais no asfalto
destroem o pedaço da suástica
dinamitar o ódio não subliminar
a combinar matizes de paredes com lavagem cerebral

Rápida, forte & evangélica
repetida aos escombros binários
ouvidos, aço e falanges desgastadas pelo modo fabril capital rolante
em vermelho sangue aos olhos fixados -e fechados- na direção do Pato

As esperanças perdidas ao trocar o cigarro filtro branco ao laranja
tanque posto sobre vozes dissonantes
decalque d’uma arma desenhada em dedos esferográficos
segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo
aos terminais ramos
do nosso cotidiano calcário

Não há tempo da desistência
mar recuou por mais de cem metros
a Onda virá violenta, certeira & sanguinária
envolta em programações, números sorteados por inteligência artificial
esmagando corpos e os colocando como bateria de carro