29 de abril de 2011

 Finais de semana onde a inspiração parece fugir por entre as notícias pasmas sobre uniões. O indicativo de que o mundo precisa de ópio televisivo, sempre bate por todas as ondas mentais que pulsam em outra frequência. Não adianta então reclamar da edição global no mundo da revista Caras, deve-se mais do que nunca reabrir acordoamentos em outras direções de pensamento. Ver o lado de lá da fossa em que se caminha com passos largos.

Sendo assim, a música sempre foi e jamais deixará de ser o balsâmico alento divino que por muitas horas é capaz de contribuir para o avanço da métrica lateral do pensamento humano. Poesia cantada, musicada invenção que salva e compensa qualquer tentativa de manter seu corpo no marasmo universal.


Começo então com uma banda que corre pelas laterais, a maneira cada vez mais requisitada dentro do ano de 2011. Laura Catalano, Nicholas Rice, Patrick Stankard e Keith Pilson, nasceram em uma grande névoa quase shoegaziana. Mas a falta de informações torna tudo mais vanguardista ainda. A WEED HOUNDS tem uma bateria desconexa que definitivamente nasceu em algum banco inglês smithiniano, mas riffs tão cortantes e secos que assombram uma aura acinzentada. Os vocais de Laura são retilíneos e concebem uma forma quase amargurada de vocalização. O som nova iorquino é a semente genética da banda, mas nem por isso deve-se destruir a vontade de audição dos acordes. Cativante sem soar pretensioso demais, é o melhor som em uma sexta fria.






Quase tão oitentista quanto a banda anterior, o trio THE HAIRS parece também consumir boa parte dos riffs em citações de pradarias como Wavves, Best Cost ou The Pains Of Being Pure At Heart. São canções com tonalidades rápidas mas ao mesmo tempo quase contemplativas. Tudo com colegiais ares e festas acadêmicas. A banda foi aclamada com o um dos melhores shows da NYC Popfest esse ano, mas ainda o caminho pode ser mais longo do que se imagina. Seria uma menção honrosa em qualquer lista de bandas novas e boas de 2011. O primeiro registro, o disco demo Hairs Make Music, tem a veia pop do New Order, mas com uma linha mais discreta. O EP oficial (Kool Gawd) sairá nesse mês de maio.




Uma banda que em entrevista cita Galaxy 500, The Replacements, Modern Lovers e Lou Reed, definitivamente merece um olhar mais atento. É isso que faz com que a GRAND RAPIDS seja uma das boas surpresas desse primeiro semestre. Não apenas pela capacidade criativa de riffs grudentos, muito menos pela clássica formação com dois meninos e duas meninas. O que vale aqui é toda a influência de garagens alternativas e balançar femoral que pode ser contagioso. Formação assimétrica e que inevitavelmente fará com que você sinta-se dentro de algum boteco cheio de fumaça e cerveja.





Mas se a sua praia são os anos 80 de uma maneira mais aguda e seus infindáveis teclados, o quinteto SLOWDANCE pode saldar a dívida saudosista com seus ventrículos. A vocalista e quase líder da banda, Quay Quinn-Settel tem uma voz das mais marcantes e a combinação entre guitarras e teclados fazem com que a banda apresente um certo ar de novidade dentro dos nada convencionais acordes atuais. Uma mistura do blasesismo da new wave, com uma tímida vontade de deslocar pistas de dança. Não tão alegre quanto parece na primeira audição, mas com uma bela nuvem cinza dentro dos acordes. A banda possui dois singles, sendo Spell um download gratuito.






A palavra diferente não faria justiça ao som do trio YELLOW OSTRICH. Uma combinação vocal da melhor qualidade que por muitas vezes lembra os melhores exemplos da cena, com guitarras circulantes entre o peso e a simplicidade de acordes. Muito sessentismo dentro das claves e músicas com o tempo quase ramônico, a banda é um nome que deixará marcas mais profundas dentro de seu cérebro. Surpresas nas canções que além do rock, poderiam ser muito bem gravadas por grupos vocais dos anos 50. De todas as bandas citadas, talvez a com maior discografia e tempo de estrada.
A YO tem uma capacidade de despertar lateralizações de lábios e uma cadência que para existir, não são necessários grandes acordes de bateria. Vozes e um baixo massacrante de alma, servem para que se forme uma onda de encantamento pelas notas. Assimétricos na medida certa, a banda vale muito ser seguida. Uma audição ao mais recente registro (o disco The Mistress) deixa tudo muito claro.