20 de maio de 2011

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GD 93 ACALMANDO HOMICIDAS.....


São exatos vinte e cinco minutos passados das dezessete horas. Tenho em minha boca um gosto amargo da poeira asfáltica que restou por entre meus quatro caninos dormentes. O tráfego em feridas me consumiu durante quase duas horas de calor outonal. Minha cabeça recebe sinapses onde a cortisona fisiológica inexiste. Vejo os cabelos ruivos daquele que detém meus princípios monetários e penso em matá-lo. Seria uma morte gradual e lenta. Esfacelando o rosto de matrona e seu bigode aparentemente erotizado. Decalcando sua pele como se faz com figurinhas de seu mais recente álbum da Copa do Mundo.

Uma linda ópera de sangue e vísceras espalhadas pelo chão, onde agora meu corpo teima em derreter por milhares de complexos de Golgi de inferioridade. Tenho que um dia talvez minhas boas ações tornem-se alivio, mas a prática da humildade é tão lenta internamente, que provavelmente será necessário uma tonelada de caridade para que meus pensamentos mais homicidas e sórdidos não sejam levados em consideração.

Quem me dera laicamente não perder meus neurônios por entre vinganças religiosas de ódio e furor, colabado no vaso mais íntimo de meu testículo esquerdo.
Se ao menos um piano...

Então uma nota trava-me a garganta. Toma de mim o furor nazista de emancipação acima de qualquer Polônia. Já não existe matriarca frígida, muito menos vontade de trazer a morte cavalgando por entre meus dedos em forma de alçapão. Apenas uma sensação que cresce vagarosamente pela parte mais ínitma de meus alvéolos.
Se apenas eu soubesse de quem é esse piano....


Debbie Neigher nasceu em São Francisco. Filha alta e de formação óssea abundante em osteoblastos, aprendeu o piano aos quatro anos. Aos treze (às avessas do filme de mesmo nome), escreveu e musicou suas primeiras canções.
Tudo usando o instrumento ébano marfiniano.
Durante sua adolescência, por entre promessas de amores e revelações em seu corpo, ela auscultava todas as nuances em claves de sua terra natal. Shows de punk, folk e uma cocaína chamada jazz, colocada delicadamente em seu útero pelas mãos de seu pai.
Mas a menina tinha em seu mais completo gene a potência de valquírias seminais, que a acompanharam por todo esse amadurecimento em forma de vida e música.

Por isso não é de se espantar que, ao ouvirmos os primeiros acordes de seu primeiro e independente EP tudo se torne tão claro quanto vidro úmido. Uma coleção de canções gravadas em algum lugar de 2009 (ela tinha 15 anos então), com uma veia latejante embalsamando grandes cantoras. Fica difícil imaginar que Debbie não tenha gravadora, muito menos que está apenas começando.

São reverberações de uma maçã Fiona ou força gástrica de poder felino. Seis canções que tem o poder de acalmar o mais furioso homicida do trabalho. Notas que acalmam o refúgio mais bestial da alma humana. Aquela mesma que volta e meia, em desespero, mata milhares de pessoas dentro da imaginação.

Ouça o EP de estréia da cantora e deixe-se levar pela mais bonita capacidade humana, a de transmutar amargura em felicidade e fundir tudo isso em ares marejados.