22 de junho de 2011

GD 98 CORRIGINDO O ERRO AUDITIVO.


Existem reações tardias dentro de seu corpo, que por muitas vezes tomam razões e relações maiores do que deveriam. Ainda mais quando essas vem embebidas por entre quadros em preto e branco. Milhares de minutos massacrados por miragens em imagens de passagens atemporais não vividas. E como em qualquer sonho recoberto de tique taqueares insólitos, as notas vão vagarosamente tornando-se mais silenciosas, até acabarem faderziniando em seus ouvidos. O que não impede o antes explosivo e hipnótico das claves nascidas em algum trecho dos romances de Júlio Verne.

Talvez tudo isso seja melhor explicado, quando seus ouvidos colarem nas canções da UNKNOWN MORTAL ORCHESTRA. Uma das notas perdidas por meus cíngulos esse ano, já que os sempre certeiros Raul Ramone, Rrraul e Dominodromo falaram desse combo logo em meados de março de 2011. Essa é uma das falhas em rotear milhares de informações. Muitas vezes perde-se algumas nuances.
Mas sempre existe tempo de ressurreição auditiva.

O disco de estréia da banda, homônimo, é um dos melhores lançamentos do ano. A fusão do funk dos setenta, com a binariedade avalancheana e guitarras jalapeñas é uma das melhores equações em 2011. Muito longe das comparações com as bandas do momento, o álbum é uma dose potente de heroína lisérgica e dançante. Daquelas chinesas e escuras que queimam suas veias de maneira irreparável. Sublime viagem por entre cubos quase eróticos/esotéricos em forma de notas.
É abafado demais e sudoríparo na medida certa.


Talvez esse gosto pelo velho que a banda apresenta, tenha relação com a vida de seu fundador. O herói nascido na Nova Zelândia, Ruban Nielson.

Músico com groove de sobra para incendiar um bairro, sua seminalidade não está nesse novo grupo. Mas sim na banda THE MINT CHICKS. Conhecida e poderosa alquimia de punk, noise e pop, que perdurou entre 2001 e 2010. Conseguiram um contrato com a Flying Nun Records e ganharam em 2007 os prêmios de melhor banda, álbum, vídeo e capa de disco em uma premiação de sua terra natal.
Eles eram realmente bons, como os vídeos abaixo mostram.




Quando todo mundo achava que tudo decolaria, a banda acaba. Ruban então muda-se para a cidade de Portland e inicia uma solitária vida comum, tentando quase em vão arranjar empregos que lhe dessem sustento. Tudo muito longe da música.
Como Nielson é um ilustrador de mão cheia, com um portfólio em mãos corria a cidade em busca de um trabalho que o transformasse (como descreve em entrevistas), "um cara com uma vida normal".

Mas...

O músico jamais deixou de compor. E assim iniciou algumas canções e as postava em uma página do site Bandcamp. Três meses depois da primeira postagem, inúmeros convites e mensagens de blogueiros começaram a pedir mais. Algum tempo depois, estava novamente na estrada. Dessa vez acompanhado da banda Western Smiths.

O resto é a história que você já conhece. O projeto tornou-se uma banda chamada Unknown Mortal Orchestra. Combo incendiário onde as notas colocam cadáveres em preto e branco dentro de pistas de dança caleidoscópicas.
Ouça algumas das canções desse primeiro e sensacional álbum. Acompanhe o Gangrena Diario no twitter, quem sabe não rola o download do disco por aí.