30 de julho de 2011


É como perder-se.
Sem ao menos entender por onde as veias se contorcem, ao perceber que inevitavelmente um pedaço físico aprisionou-se no etéreo das árvores em uma floresta.
Não existe saída ou corredor em luz de chegada. Apenas sons em sombra densa, arrebentações por entre a alma que presa, desloca sua gravidade. São notas cantadas nas beiradas de lagoas, por um ser em hipnose tântrica. Nem preto, nem branco, quiçá sépia.
Apenas arrebata.

E tudo feito em segredo alquímico.
Fechado hermeticamente por entre paredes solventes da Hungria.
Em caldeira nas sinapses de Németh Zsófia.


Das imagens e sons que escondem-se por entre zeros e uns, não importa muito a sequência em que são moldadas as canções. Ouvi-la pode parecer um brincar com massa para modelar feita de lava. Você constrói a sequência ao mesmo tempo que suas têmporas tornam-se escape das notas. São acordes onde não existe antecipação, apenas o sentir mais visceral enraizado por entre o oxigênio, que percorre o quarto onde Németh escreve todas as suas canções. Em casa, com as portas trancadas. Quantidade interminável de sujos segredos, fechados no mais escondido recanto da alma e cíngulo.

Não existe preparo antecipado para seus ventrículos. Longe a linha de escape para que você possa salvar-se, se posiciona. A trama recorberta em riffs que serram cada espaço de seu peito é rápida e te leva por um caleidoscópio hipnótico. Uma porção de garagem, duas doses etílicas de peso e toneladas de uma voz que parece correr por toda extensão de sua epiderme.

A menina cuspida pelo céu, recortanto esferas binárias, já possui três EPs:

a) Piresian Beach EP (08/2010)
b) Parttalan EP (11/2010)
c) Split EP com a banda Zombie Girlfriend (02/2011)

Dois singles:

a) Where You Gonna Go (04/2011)
b) Make You Mine (12/2010)

Aqui entra uma observação, para demonstrar o quanto existe o gene alquímico dentro das composições do projeto da cantora, chamado PIRESIAN BEACH. A canção Make You Mine vem com os seguintes dizeres em algumas publicações binárias:
"Corona cover".

Quando garimpa-se o nome Corona, descobre-se uma obscura banda de house music dos anos 90. Donos de um dos sucessos das pistas, a canção The Rhythm Of The Night. Mas a letra do single de Zsófia é completamente diferente. Mas quando nos atemos ao refrão da menina húngara, percebemos que a música (e não a letra) deriva do sucesso das pistas. Detalhe sórdido, mas de uma maestria ímpar.


Levar-se pela discografia da Piresian Beach, é sentir por toda a epiderme o vento frio cortando o desejo enraizado em um quarto com a janela trancada. Quadros cinematográficos, onde o terror em forma de um fio na navalha torna sua alma mais densa. As notas por vezes são vagarosas, pois assim a claustrofobia do sentir é mais completa. Por vezes quase afoga, em outras sublima cada pedaço seu. Em letras que podem levar seus cíngulos por lembranças quase catársicas.

"Enemies and tepid dreams cannot find me here,
all I do is laze about,
I never have no fear
Every day I lock the door,
I’d rather stay inside,
looking for the dirty secrets deep within my mind

And I know what I say
I will show what I mean

I would feed the canaries even though they’re dead,
thinking about those bloody books that I haven’t read

And about those decent men that I haven’t met,
if I died here in my flat
I would be quite sad

and I know what to say. (Lazy).

Mas não são apenas camadas de confissões adolescentes que fazem o som dessa valquíria um dos melhores discos de 2011. Tudo é muito visceral e cru. Talvez o fato da cantora fazer tudo em casa, deixe essa aura mais primal por entre as notas. Um grito reverberado de maneira tão vulcânica que consegue transpor a barreira geográfica e arrebatar ventrículos do outro lado do mundo. Mesmo Németh não acreditando que fosse possível sua música correr pelo planeta.

Uma poderosa simplicidade, tomada por guitarras que não chegam em minimalismo. São pancadas assimétricas por entre as canções do disco Fuck Your Mind, lançado esse mês. A capa parece retirada de uma das cenas com Linda Blair em O Exorcista.
Talvez seja essa a intenção.
Colocar seus ouvidos em um caminho onde o suspense toma conta. Aquela sensação nervosa antes do susto, do alívio, do ser seduzido pelas notas. São músicas onde as tonalidades mais baixas não deixam seus ouvidos impassíveis, tudo torna-se mais mágico e claustrofóbico.
Por isso mesmo, mais vivo.

Ouça o sensacional disco Fuck Your Mind e depois todos os singles. A discografia de Németh está disponível para download gratuito, na página da cantora.