2 de setembro de 2011

GD 109. UM PASSO E UMA BANDA...


Por entre os acordes em uma música de Cartola, muitas vezes a gentileza de uma nota só ainda resiste. Andar por entre corredores e assimetrias deambulatórias, fica mais esplêndido ato em uma sexta-feira de inverno. Calcário de passos que vislumbram saídas nem sempre tão exatas quanto seguras. Um pé ante pé apenas e você pode perder o controle de onde vem e para onde vai. E aí reside o minimalismo da vida, por mais que caminhadas longas tenham milhares de solados em inércia com o chão, sempre uma única escolha faz a diferença. Não são centenas de aglomerados biomecânicos fisiológicos que transitam, mas sim como cada um deles é capaz de caminhar um passo de cada vez.


Unidade unitária que desmembra certos aspectos dentro da música também. Como sempre a vida e as notas não caminham em separação tectônica. Muito mais corroboram com o tal do uníssono. Essa dupla sempre caminhou pela terra em paralelos que se cruzam, absurdos geométricos que despontam como semelhança.
Um passo e uma banda, a quase lendária Majesty Crush.

Alvorada dos anos noventa, mais precisamente o não dissabor do ano de 1993. Um único passo, um único disco. Love 15 era uma catarse entre o shoegaze inglês e a destilada fumaça cinza de Detroit. A banda parecia completamente perdida dentro do cenário do rock americano, pois era o tempo onde o Nirvana dava todas as cartas dentro do rock. Entretanto David Stroughter, o vocalista, possuia muito mais cartas em suas duas mangas. O quarteto produzia profusões em notas que bem equacionadas, abordavam as canções com distorções leves e riffs que não eram feitos para a apreciação em forma de chiclete, mas sim com uma força que poderia cortar qualquer fio de água em estado sólido.

Mas não apenas a solidez do som era algo que descia muito bem pelos ossículos auditivos. A banda sabia converter simetricamente as letras (que quase sempre possuiam uma apelo quase tão sexual quanto homicida), com os acordes. Não havia a necessidade de grito, e mesmo quando a canção era uma navalha leve como em Uma, os vocais pareciam calmamente dissecar cada sílaba em desespero e ejaculação. A bandas formada por Hobey Echlin, Michael Segal e Odell Nails seguia em alquimia.


 Não conseguiram uma carreira a longo prazo, mesmo porque a vida mostrou que era melhor queimar de uma vez do que desaparecer aos poucos. Por isso Love 15 é o único disco completo da banda, mesmo com o paradoxal lançamento promovido pela Warner. Não houve festa de estréia, não existiu campanha publicitária e o quarteto foi talvez o único nascido em Detroit relacionado ao shoegaze, a assinar contrato com uma grande gravadora. O disco ficou esquecido e bem guardado até que a Vulva Records resolveu relançar a discografia da banda via iTunes.


Vida que ainda conta com o sensacional EP de Sans Muscles e a quase demo que daria origem ao disco completo, Fan EP. Aliás dentro desse registro que serviu como base, já existia a canção Nº 1 Fan. Uma das mais explícitas letras sobre matar um presidente da república. Mas as grandes e cambaleantes canções estão em Love 15, como por exemplo a grudenta em velcro Cicciolina.
Majesty Crush é uma daquelas bandas que são quase obrigatórias de sempre se revisitar.

Assista o erétil video de Grow e também Cicciolina e Nº 1 Fan. A discografia da banda, você pode achar no Ana de Downllanda.