6 de outubro de 2011

GD 113 O ATEÍSMO COMO DIVERSÃO...


Você pode analisar o filme Donnie Darko (2001), dirigido e escrito por Richard Kelly de várias maneiras.

Seja pela visão existencialista de Sartre, através das teorias de David Hume ou ainda pela ótica da fenomenologia de Heidegger. Aliás se você correr pela página do Facebook do GD, poderá achar uma das melhores resenhas sobre esse sensacional filme, escrita pelo pensador binário Evandro Venâncio.

Mas um dos aspectos mais importantes (também levando em conta as teorias de Foucault) é a crítica ácida à sociedade e como ela desperta as piores esquizofrenias dentro do ser humano.
Mesmo com alguns diálogos deixando no ar uma aura sacra, o filme tem uma equação extremamente ateísta dentro de seu roteiro.


O personagem importantíssimo dentro da trama toda e que ilustra bem esse conceito é Jim Cunningham. Interpretado com maestria por Patrick Swayze, o autor de livros de auto ajuda e palestrante motivacional que esconde a pedofilia como hobby é um dos mentores de Donnie dentro da caminhada pela realidade tangente ou realidade paralela de tempo se você preferir.

O importante aqui não é explicar como um ator como Swayze foi parar em uma produção de Drew Barrymore sobre viagem no tempo, criação de buracos de minhoca da teoria de Hawking e outras coisas, mas sim perceber a ligação que existe entre o personagem e a crítica ferrenha ao catolicismo que o filme deixa claro.


A foto no começo do post é a apresentação do personagem Cunningham. Donnie Darko (Jake Gyllenhaal) acorda em um campo de golfe após uma de suas caminhadas sonâmbulas por essa dobra de tempo onde vive, guiado por um coelho assustador que o leva por entre uma realidade alternativa (a relação com Alice No País das Maravilhas não é de graça). Patrick Swayze mais um amigo estão jogando e encontrão o menino. Perceba que ao redor da cabeça dele existe uma espécie de halo formado pelo sol. O mesmo tipo de aura que aparece nas representações em pinturas de santos e principalmente nas de Jesus Cristo.

Outra característica que corrobora com a tese do anti cristianismo dentro do filme, aparece com as personagens que seguem os preceitos ensinados pelo palestrante. Todos elas tem uma fé cega em seus ensinamentos (uma delas inclusive cria uma entidade dedicada ao palestrante, ou se você preferir uma Igreja). Mas quem mais se aproxima de uma carola sunita é a atriz Beth Grant, que interpreta Kitty Farmer, uma senhora quase tão cega quanto qualquer religiosa de plantão. Swayze é um deus para ela.

A proximidade do debate mitológico religioso dentro de Donnie Darko também é possível pela influência dos estudos do cientista e escritor Joseph Campbell, autor da teorias do monomito e do livro As Máscaras de Deus. Assim como  a mitologia dos quadrinhos, pois afinal de contas Darko é o herói e Cunningham o vilão.

O filme é uma experiência única e deve ser revisto sempre. Não apenas pelas questões subliminares, mas também para questionar todas as verdades que são embutidas dentro de nosso cérebro durante as nossas vidas. Que podem de uma hora para outra serem corrompidas por um coelho infernal da dimensão de tempo paralela ou uma turbina de avião que cai em seu quarto.