10 de outubro de 2011


Muito dificil seria dimensionar qual a real importância de uma banda como a BIG STAR dentro do cenário da música. Não pelo fato que não existe tal nuance, mas sim porque os pseudópodes que anemofilizaram os quatro cantos do planeta (mais especificamente o cenário que se costuma chamar alternativo), são milhas e mais milhas de referência.


Talvez os setenta foram o último moicano no quesito mudança histórica dentro da música.
Muito se discute que os noventa também assim foram. A diferença básica entre as décadas relaciona-se com a música do mesmo jeito que os Beatles. O quarteto foi responsável por tudo de genial existente no rock e também por todas as porcarias que vieram depois.
Os anos onde o punk tornou-se mainstream também foram criadores de uma leva de acepipes em mictório sem precedentes na face da terra. A época onde a decadência da civilização criou um grito amorfo de guerra através dos três acordes, possuiu mais pureza nos quilates. Não um tempo melhor ou pior, apenas mais original. Outrora uma capacidade de explosão octaedracubana muito mais viva em octanagem de lava.

Mas essas discussões não podem ser a tônica quando o assunto é a canção. Porque músicas são dissecadas pela alma de quem as ouve, não pela teorização de terceiras opiniões. A única certeza dentro do território das claves é que não existe uma única e definitiva certeza. Somos todos cegos e surdos vagando por um mar de opiniões desconhecidas pelo grande público, que ainda corre muito mais pelo apelo popular do que o catedrático. Os intelectuais ignoram a existência do gosto carcomido pela oxidação popularesca e o público não conhece as sinapses escritas por esses escribas.

Por isso o quarteto construído por Alex Chilton, Chris Bell, Jody Stephens e Andy Hummel torna-se primordial para que se entenda de uma vez por todas que nem todos estão errados e muitos menos estão certos.
Quando dos anos sessenta onde a banda nascia através do encontro de Chilton e Bell, a Big Star passou por todo o processo que logo depois aconteceria com centenas de outros grupos. Alex já sentira o gosto do Olímpo Musical quando sua banda The Box Tops emplacou a canção The Letter como hit. Mas o que aconteceria depois não estava nem um pouco dentro dos planos de nenhum deles.


Os três discos da banda na primeira encarnação (#1 Record, Radio City e Third / Sister Lovers) foram completos fracassos na época. Em algumas fases até com nenhuma venda sequer, conseguiam menos sucesso comercial do que os Ramones, que eram renegados em seu próprio país.
Mais uma vez existia uma separação enorme entre o que era considerado talento e a vontade do povo. Mas isso mudaria dentro de algum tempo, precisamente pelas palavras de Peter Buck do R.E.M..

Um dos maiores conhecedores sobre música, o guitarrista nos anos oitenta clamava pelos oito ventos do norte que sua banda tinha como objetivo gravar alguma coisa que fosse tão boa quanto Third. Foi o que bastou para que uma nova geração de pessoas descobrissem os três clássicos desconhecidos, que estão hoje na lista da revista Rolling Stone como alguns dos maiores discos de todos os tempos. O sucesso póstumo (pois Chris Bell morrera em 1978), ocasionou uma volta da banda em 1993.

A história desses músicos é a regurgitação do modus operandi da indústria musical naquele tempo, afinal de contas até o selo independente do grupo (STAX) foi consumido pela necessidade de artistas que tocassem nas rádios. Assassinados temporariamente pelas mãos das gravadoras e renascidos pelos ouvidos atentos de uma geração de músicos influenciados, a vida da Big Star ganha um documentário completo. Produzido e dirigido por Drew Denicola e Danielle McCarthy.

Nothing Can Hurt Me tem um trailer maravilhoso (quase dez minutos) e tudo o que é necessário para que seus olhos transbordem a alma pelas laterais das imagens. Uma banda que tornou-se marco para todo o chamado cenário independente dentro do rock. Entre o povo que não conhece os artistas e a crítica que cria um clube de amigos e suas costas largas, o rock foi salvo pelos próprios músicos. Uma lição que deveria ser obrigatoriedade até nos nossos dias.
O documentário corre paralelamente ao show tributo realizado com os integrantes remanescentes da banda esse ano.

 Assista ao trailer.