17 de outubro de 2011

GD 115. OTIMISTAS...


Se a questão toda é ser otimista em relação ao todo que se chama vida, porque não então traduzir tudo isso dentro de claves sonoras?
Os impropérios diários são apenas pequenas peças de degustação amarga e mórbida, que assolam sem pena ou piedade os cordões umbilicais fétidos em éter e mescalina que temos dentro de nós mesmos. Não existe saídas fáceis muito menos estradas pavimentadas em ouro e tijolos doces.
O mundo é frio, sempre foi.

Não será hoje que uma salvação embebida em algum halo santificado do cristianismo televisivo aparecerá. Muito distante estamos todos de algum entendimento feito através da palavra. Mas sempre é possível que notas, ao tocarem seus mais íntimos cíngulos, destoem de toda a conformidade. Atravessem por canais escondidos dentro da alma humana e destronem vez por todas essa eterna falta de humanismo, que transgrediu o existencialismo sartreano de uma maneira tão deturpada quanto culpar as vítimas de estupro por usarem roupas justas e curtas. Por isso e por outras razões que não vem ao caso nesse momento, onde a explosão de uma bomba parece ser a solução, é que a banda californiana Inspired and the Sleep torna-se uma das boas opções auditivas dessa semana.



Max Greenhalgh, fundador do trio, é um desses casos onde a inspiração parece ter morada nas epidemias de otimismo. Ele mesmo explica que a banda formou-se exatamente por esse sentimento. A capacidade do existir combinações melhores de cotidiano após cada noite de sono. Uma maneira inusitada para formar-se um grupo de rock quase matemático, mas nem por isso indevida.
A banda apresenta-se assim, por equações brandas e composições de teor mais explosivo. Com mudanças bem estudadas e traduções sentimentais nas letras que acompanham cada acorde de maneira quase ímpar. Pode tocar-se de maneira mais alta ou contemplativa, a escolha é definitivamente algo que é apenas do ouvinte. Quase uma pregação de sonhos cortantes e assimétricos, por segundos que despontam pelo pop fácil e as dificuldades quase pleonásmicas da pretensa vanguarda alternativa.

Mas o trâmite de idéias não é uma única e modorrenta mão, existem ainda nuances mínimas jazzísticas e ecos de R&B.
Nada disso pode atribuir uma máquina fotocopiadora de sucção cerebral. São acordes dispostos de maneira assimilatória fácil, por isso mesmo acabam desfazendo qualquer tentativa de rotularidade. Notas que se dissolvem por entre giros cerebelares de maneira tão bem conceituada, que por vezes é possível observar o céu tornando-se mais iluminado, mesmo dentro de uma tarde tão cinza quanto o viver com medo.

A banda possui um EP de estréia com lançamento para dezembro e um single para outubro (While We're Young). Você ouve tudo aqui.