8 de novembro de 2011


Nunca o acaso pode ser traduzido como caminho da evolução humana, mas no caso dos tempos binários por muitas vezes parece que ele dá as cartas de maneira lisérgica e sem a presença de seu pai Timothy Leary.
Obviamente a onda de tecnologia que tomou o mundo, ocasionou uma corrida de cem metros rasos abarrotada de atletas anabolizados, no quesito adaptação cotidiana.
Ergueu-se então uma cidade global formada por prédios de teclas e controles, ruas repletas em redes sociais e praças dos mais bonitos blogs com fotogramas que mostram desde a situação sexual dos seus proprietários, até as mais novas novidades do mercado semi morto fonográfico.
Temos uma aldeia de informações que tornou-se uma cidade quase calvina. Entretanto muito mais do que o crescimento desmedido da tecnológica, existem ramificações da psicologia humana que não se alteraram mesmo com a presença constante da iluminura internética.

Entre eles a paranóia, o medo e o reacionarismo.

E esses três pilares estão aos poucos matando a sociedade como a conhecemos. Não se engane, vivemos em um tempo que de tão perigoso para a sociedade, deveria ser tratado como estado de alerta máximo. O ser humano emburrece na mesma medida que a velocidade da tecnologia cresce. Isso não é apenas uma previsão do futuro, está acontecendo no mesmo segundo em que digito essas linhas.

Quando Italo Calvino escreveu As Cidades Invisíveis talvez não imaginasse o quanto elas fariam parte da natureza humana. Na descrição das 55 localidades geográficas por Marco Polo ao soberano Kublai Khan, uma das temáticas escolhidas é a da cidade e os mortos. Uma dessas dissertações imaginárias do livro é quase tão exata quanto relógio.

O capítulo 3 desse tópico descreve Eusápia, um local onde a população preocupava-se com o aproveitar a vida, já que o lugar era o ápice na época. Para evitarem aflições com a evolução humana e consequentemente a morte, a população construiu uma cópia exata da cidade no subsolo. Essa réplica continha os cadáveres dissecados com o esqueleto recoberto por uma pele amarela, mantidos na mesma posição que faziam suas atividades na cidade dos vivos.

Quem fazia a transição de uma cidade para a outra era a Confraria dos Encapuzados. Ninguém da população sabia o que acontecia na cidadela dos mortos e as notícias eram dadas apenas por intermédio destes senhores da informação.      

De um lado Italo, do outro a era da informação rápida e a USP.


São Paulsápia, a metrópole latino americana, quarta cidade do mundo e ápice da civilização brasileira é dividida em duas partes distintas.

A primeira na superfície, onde os viventes tentam irremediavelmente manter seu meio de vida sem preocupações e longe das aflições do mundo. Mesmo porque a cultura da novidade cultural, econômica e social acontecer aqui primeiro, ainda é o vergalhão máximo de centenas de movimentos nazi nacionalistas da cidade.
A Eusampa já tentou inúmeras vezes montar palanques baseados na aversão aos migrantes nordestinos e outros que formam mais da metade dos viventes. Muito se falou e pouco se conseguiu, então construiu-se uma outra cidade no subsolo da sociedade vivente. A localidade onde os cadáveres sociais vivem, um lugar onde tudo o que é considerado morto para essa parte da população paulistana pode morar. Sejam migrantes, gays, maconheiros, craqueiros ou estudantes.

As informações entre esses dois mundos são apenas transportadas pelos homens de capuzes redatórios.


Um aglomerado midiático que divulga as coisas sem a profundidade necessária para que os viventes possam decidir se querem passar para a cidade dos mortos ou como querem passar para o outro lado. Os homens e seus capuzes recobertos de impunidade da soberba, mostram aquilo que querem. Dos mortos sabe-se apenas o que é liberado e mais nada.
Não se conhece as falcatruas dos reitores, o descaso do governo quanto ao mundo dos mortos e como Kassab, Alckmin e seus comparsas que ejaculam milicos das antigas na Polícia usam uma Universidade como latrina operacional e deixam os mendigos e doentes de crack na Rua Helvétia morrerem sem amparo.


Ninguém quer saber. Não interessa saber, é muito mais fácil a diarréia de conceitos estúpidos e burros que os viventes podem passar através da tecnológia e das redes sociais. Eles tem os encapuzados para se basearem e espelharem. E como no romance de Calvino, podem decidir como querem passar para o lado de lá.

Para a população de Eusampa isso não interessa. O filtro sujo da tecnologia permite que a cegueira da caretice dessa direita imunda comandada por um partido chamado PSDB, que insiste em manter suas garras em nossos cérebros, seja aquilo em que acreditam. É muito mais fácil chamar alguém de maconheiro e vagabundo, do que perder cinco minutos de sua vida perfeita lendo alguma coisa que realmente conte a verdade.

E isso ganha um eco enorme em uma sociedade que é tão pobre de conhecimento quanto a nossa. Sim meus caros proletários encefálicos, somos uma sociedade falida do ponto de vista sociológico. Cria-se dentro do Brasil (e principalmente aqui em São Paulo), uma orda podre de seres inumanos que não tem mais vontade em aprender o novo e contenta-se com o que vem mastigado dentro de redes sociais ou meios de comunicação e seus capuzes. Uma caretice de conceitos e uma defecação de moralidade que é tão absurda quanto as leis que regem a nação. Ninguém sabe dos fatos, mas todos tem um opinião de extrema direita.
Morte aos maconheiros playboys, morte aos alunos arruaceiros, morte aos baderneiros.
Viva o Capitão Nascimento.

Bem vindo a latrina de conceitos humanos da internet.


Generalizou-se a notícia e ninguém falou sobre o fotógrafo que tentava arrancar a máscara de um dos manifestantes para conseguir um enquadramento sensacionalista. Enfeitou-se o circo midiático quando da morte do cinegrafista no Rio. Construiu-se um mártir (e ele é sim um herói, pois é correspondente de guerra) e esqueceram de dizer que o governo do Rio usa a imprensa como janela para essa limpeza falsa das favelas, além de distribuir para os jornalistas coletes que não protegem contra tiro de fuzil.

O Brasil é uma nação de generalistas.
Generalistas são além de tendenciosos, perigosos. Pois para eles todo mundo é vagabundo e desocupado. Todos são playboys e maconheiros. Todos gays são transmissores de doenças e devem morrer e todo nordestino é burro e pedreiro. 

Mas os generalistas também se equivocam.
Vide a reitoria da própria USP, que mudou o discurso sobre a autonomia do campus universitário. Para desafogar o trânsito da cidade ela não serve, para construir duas estações de metrô que ajudariam a população ela também não serve. Mas para perpetuar a prática demagógica desse governo militarizado de Kassab e Alckmin, aí ela torna-se patrimônio da cidade?


Isso não é autonomia, isso é segregação e essa é a tônica da cidade onde vivemos. Separa-se as pessoas em castas e se alguém ultrapassar a linha de separação a castração e violência vem aos montes. Você é gay, então fique na Frei Caneca, se subir a Paulista, morre de pancada. Você é nordestino, more por lá, se vier para São Paulo apanha.
A USP apenas reflete um problema que é do país inteiro.
Mas os homens de capuzes e suas opiniões decadentes apenas querem que a população permaneça com medo.

Medo dos maconheiros baderneiros, medos dos nordestinos e medo dos gays.   
Uma população com medo vira massa de manobra midiática e do governo.

Não contesta se a PM bater e matar alguém, afinal de contas é tudo para a sua segurança e proteção. Tudo para que se mantenha o modus operandi da cidade repleta de belezas que é a  Eusápia Paulistana. Esse meio de governar com medo através das pancadas já está tornando-se tônica, veja o que aconteceu com os manifestantes contra o Código Florestal.
É esse mesmo medo que no começo do ano fez com que alguns moradores moralistas de Higienópolis fossem contra a construção do metrô no bairro. Aliás o nome do bairro é bem dado, afinal de contas quem melhor para cagar regras de moralidade do que um habitante de HIGIEnópolis. Não queremos o progresso como sociedade, a segregação vai manter as castas separadas e o debate cada vez mais mudo.

Mas não é apenas a imprensa que alimenta esse medo, a população quando não se informa também coloca mais lenha nessa parafernália repressora e careta que se forma bem na frente dos nosso olhos. Não existe verdade dentro da internet, existe sim milhares de informações que devem ser absorvidas em todos os ângulos e opiniões possíveis. Não basta apenas achar que a verdade é universal, porque a verdade não existe. São inúmeras portas e janelas com mensagens diferentes e opiniões contrárias. A sua verdade é diferente da minha e a minha da de outra pessoa.

Não basta apenas ter certezas, elas serão sempre pequenos pedaços de sua evolução constante. Mutacionar as opiniões com o debate jamais passará pela repressão de ideias e conceitos. Mas a caretice cagatória da nossa sociedade parece esquecer que as diferenças fizeram desse país algo em que se pode sonhar. Enquanto isso na cidade, os ricos ainda matam os pobres atropelados e os corruptos roubam seu dinheiro e seu voto.

Essa ideia de estado popular que a nossa tal democracia veste hoje, pelas mãos dos governantes, é tão podre quanto a de Marx e Lassalte.

Eu sou o anti-cristo, eu sou um anarquista.