23 de novembro de 2012


Aos encantos que entranhas fusiformes escondidas podem fazer em suas amebóides sinapses pós modernas, é preciso entender o quanto de lava corrosiva desce pela alma quando aos ouvidos médios conecta-se uma certa dose de granulomas em claves.
Tão ácido como o quadro de Sofía usado como receptáculo cocainômano de Rímini em O Passado (o livro de Alan Pauls, não a deturpação dirigida por Babenco). Também infantilmente boneco conduzido pelos bel prazeres de uma saliva vermelha que orgasmaticamente leva seu inconsciente próximo ao abismo.

Enquanto os profetas dos tapas em torácicas vértebras clamam os melhores, é preciso entender que o cartesiano calendário dos desamores alternativos e clemências pelos melhores jamais passarão perto do que acontece no cada vez maior mundo da lateralidade. Uma pílula e uma tonelada de máquinas cada vez mais parecidas com todos nós, dando a impressão - ao analisarmos o sartreano verbo da questão - que as máquinas somos nós. Porém, dentro desse contexto inexiste a capacidade em catapultar seu verbo carne aos confins dentínicos. Ainda mais levando em consideração a estreia dos ingleses da banda TOY.

Quinteto nascido ao final de 2009 e início do ano seguinte. Passam longe do quesito facilidade sonora. Difícil encontrar alguém dentro do cenário atual que tenha uma canção de quase dez minutos (Kopter) fechando um disco que aos ouvidos açucarados do falso alternativismo atual pode soar tão pedante e ruim quanto uma reverberação de Fernando Pessoa ou a querida das citações virtuais, Clarice Lispector. Mas o final fantasmagórico desse álbum é tão sensacional quanto seu início.

Batidas que reverberam uma febrícula. Ao longe inexiste vida por entre os acordes cada vez mais agudos nas guitarras de Colours Running Out. Uma pequena gilete partida ao meio separa pequenos montículos brancos que em breve em ascensão anasalada podem repartir sua consciência em dois. Mas os primeiros sinais gélidos sentidos que cortarão a farínge em cada engasgo de acetato sentido por suas entranhas ainda está por vir. Uma troca de sinais de vivalma corre todo o disco. O lépido estupor da lentidão que aos poucos toma conta de cada pedaço do seu sangue ganha vida após o início de The Reason Why. A estreia dos ingleses seguirá assim. Com entrecantos cada vez mais nervosos e lisérgicos, compartimentando-se com pedaços azulados dos restos de seu corpo.

Aos côncavos esteróides dos anos oitenta que são sentidos em quase todos os acordes, a segunda faixa tem mais evidência dessa genética. Mas o que não é regurgitação torna-se uma lufada de ar frio fechando os poros quentes e análogos aos acordes do disco. O peso vem aos poucos. Não é notado assim como uma pancada metaleira, mas sim como um material líquido como o mercúrio tóxico. Como se fosse a preparação de Neo para o resgate, onde engolir o líquido libertador é ser engolido por ele. As canções vagarosamente competem eletricamente por suas mielinas e tomam espaços elétricos acetilcolinados. Mas não existe o romper arterial e sim uma dissolução bela e ao mesmo tempo lisergicamente cinza e fria.

Um dos melhores trechos dessa alquimia é a trinca de canções Drifiting Deeper, Motoring (reconhecida por Zane Lowe da BBC uma das melhores 100 canções de 2012) e Heart Skips a Beat. Mais montículos imaculados separados exatamente como fileiras que engordam ao redor de seus eixos mais distais, catapultarão sua mente ao limbo. As duas primeiras servem para amontoar o resto de seu corpo espalhado pelas arestas, mas a última é como descobrir um pedaço do roupão branco, sentir nascer por entre seus dedos uma rosácea marcação carnal, que sua língua clama por tocar, e ao mesmo tempo sente cada tremor em seu rosto impedindo a marcação da saliva. Não racionalismo, apenas a vontade do toque corrompendo os poréns, a cada célula sensitiva da língua enlouquecida e entorpecida aos plurais sabores que passeiam pelos bicos expostos no que restou do roupão.

São claves, mas poderiam ser gemidos.    

Um disco de estreia que não preconiza o que está por vir, mas aponta em direções tão assimétricas e exatas que torna-se quase impossível não ouvi-lo uma vez mais a cada dia nascente. Horizonte reciclável escapando pelas arestas das portas, deixando levar sua alma pelos solavancos das aracnóides mais sensacionais desse fim de mundo.


Ouça repetidamente...