10 de dezembro de 2012

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Caudaloso...


Suspenção caudalosa que corrobora com o seco do cortante ar. Inúmeras vezes o disco de estreia possui uma urgência em mostrar todas as facetas mais elaboradas da banda, que podem soar forçados empurrões faríngeanos tentando rasgar sua garganta. Resta então o amargo do destempero, o mesmo que aparece ao tentar sugar o resto de gasolina de um tanque, quando não mais existe saída a não ser deixar sua boca emulsionar amálgama tão venenoso que pode-se sentir o ar tornando-se rarefeito quando o líquido petrolífero invade suas narinas.



Porém, do mesmo jeito que a vida nunca nos prepara para o tormento cefaléico de uma dor nesse termos, a opção é deixar-se levar pelos caminhos de quem escolheu uma estreia da maneira mais sólida. Ao mesmo tempo em que essa lama barrosa de vulcânica vivalma corrobora para o acender sinapses mais latejantes e vagarosas, a banda Blue Light Curtain não teve pressa alguma para deslocar seu primeiro álbum.
Paul Groth, Laura Bratton e Michael Sterling sabem bem por onde caminhar. Ondas levemente mais poptônicas dividem espaço com pesadas reverberações distorcidas.

Não existe incapacidade muito menos uma despreparação. Desde a depechiana Elephant In Your Head ou a drônica Firt In Line, são ecos e mais ecos de beleza dura e podre, da mesma matiz que os restos mortais de uma rubra raposa que desencadeia reações bacterianas ao deixar-se consumir por inúmeras larvas de moscas nascidas nos mais amarelos girassóis. Os epidérmicos acordes são pequenas lâminas com cortes afiados e simples, o peso é como areia movediça, inadvertidamente hipnotiza para que aos poucos seus cíngulos sejam levados impassíveis para o fundo. O que nos leva ao correr sem medo da morte, de encontro ao inevitável rasgar das veias ouvindo valsas epilépticas como Running Down The Stairs.


Porém a beleza tetraplégica desse disco pode ser resumida na última faixa, Up In The Air, uma lição quase astral de como duplicações vocais podem ser épicas sem soarem pedantes, ao mesmo tempo que seu peito é transpassado por uma coluna de serras elétricas ligadas em velocidade terminal constante. São pêndulos que deixam uma respiração ofegante, como após um grande esforço físico, os bronquíolos parecem queimados com ácido a cada respiração e seu peso já não altera-se mais, pois já não é mais sentido.

Assim o disco de estreia do trio americano não deixará que seu corpo seja o mesmo. Deslocado por onde as frestas escondem o sentir mais denso, por claves pensadas com uma simetria de quem desde 2006 trabalha nas bainhas de mielina auditivas. Um lamaçal exaoctaedrocubano que a cada nova audição te puxará cada vez mais fundo.