16 de outubro de 2013

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Amor

Casais de mãos dadas andando por calçadas,
esteiras rolantes sedentárias,
sorriso como moeda de troca.
Aqueles casais com suas crianças baluartes,
mirins estandartes sem a noção,
fantasias de normalidade.

Do amor só conheço o ódio, o dissabor,
do amor só a doença me é familiar,
o desgosto com cento e oitenta pulsações por minuto,
aferidos em mercúrio.

Do amor, só entendo o chorume a sair do vaso,
enquanto escova-se os dentes bilateralmente.

Do amor só me é reconhecível a poda,
a morte lenta sem ser tranqüilo.

Do maldito amor não conheço o norte,
só saída encarcerada em linhas de cocaína
banhadas em vodka e gin frio como na canção.

Por isso, não entendo aqueles casais
que fazem do amor passeio público,
fotogramam felicidades passageiras
como se ao congelarem-nas pudessem eternizá-las.

Pobres diabos rotos amorosos, enganam-se,
pois na morte tudo ao inexistente volta
Até o momento eterno, após a sépia do tempo dizima-se.

Mas talvez esse não entendimento,
responda o desmanejo mundano sobre o amor,
sem explicação, sem manual,
que se aprende através da dor
através dos dias buscando a morte por entre a luz,
e mesmo assim permanece intocável, inabalável e cínico.

O amor em sua casa de cedro e cerejeira,
sopra o cinza em todas vivalmas que não o entendem,
marca como gado os infelizes,
trata com misoginia os corações como se meretrizes fossem.

O amor, esse prostíbulo especializado em sadismo,
o cão do inferno sentado ao lado de Buck Lúcifer,
não nos deixa entender,
como suas cores vivas são negras em luto
no peito dos que não tem sorte.

O amor é morte vagarosa,
 noventa e um quilos de câncer,
disseminado por mil e oitenta dias.