Casais de mãos dadas
andando por calçadas,
esteiras rolantes sedentárias,
sorriso como moeda de troca.
Aqueles casais com suas crianças baluartes,
mirins estandartes sem a noção,
fantasias de normalidade.
Do amor só conheço o ódio,
o dissabor,
do amor só a doença me é familiar,
o desgosto com cento e oitenta
pulsações por minuto,
aferidos em mercúrio.
Do amor, só entendo o chorume a sair do vaso,
enquanto escova-se os dentes bilateralmente.
Do amor só me é reconhecível a poda,
a morte lenta sem ser tranqüilo.
Do maldito amor não conheço o norte,
só saída encarcerada em linhas de cocaína
banhadas
em vodka e gin frio como na canção.
Por isso, não entendo aqueles casais
que fazem do amor
passeio público,
fotogramam felicidades passageiras
como se ao congelarem-nas pudessem eternizá-las.
Pobres diabos rotos amorosos, enganam-se,
pois na morte tudo ao inexistente volta
Até o momento eterno,
após a sépia do tempo dizima-se.
Mas talvez esse não entendimento,
responda o desmanejo mundano sobre o amor,
sem explicação, sem manual,
que se aprende através da dor
através dos dias buscando a morte por entre a luz,
e mesmo assim permanece intocável, inabalável e cínico.
O amor em sua casa de cedro e cerejeira,
sopra o cinza em todas vivalmas que não o entendem,
marca como gado os infelizes,
trata com misoginia os corações como se meretrizes fossem.
O amor, esse prostíbulo especializado em sadismo,
o cão do inferno sentado ao lado de Buck Lúcifer,
não nos deixa entender,
como suas cores vivas são negras em luto
no peito dos que não tem sorte.
O amor é morte vagarosa,
noventa e um quilos de câncer,
disseminado por
mil e oitenta dias.