25 de outubro de 2013

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Trabalho

Se o cartesiano oferece felicidade
é falácea, pois não existe rebordo de sorriso
quando se sente o seco da sarjeta
desnudando-se como tábua de salvação
existe apenas o chicote e anzol
trabalhando como cenobitas
ofuscando a luz com a carne dilacerada
expondo os restos das sobras ao sol
soldando o ódio aos restos do amor
pela vida lateral e manca,
é o estupro cotidiano dos assentos
a pulsação que oferece agonia em ciclos
o término do recomeço na saída,
cansada da gengiva desesperada
a tampar o buraco podre em gases
 com o estômago gritando acidulantes libertários
nos arredores dos lábios descascados,
enfim existe um sol que
queima tanto quanto
a sombra do fim.
Cá estou como Bernardo Soares
consumindo os restos axiais
de uma turva paciência,
revoluções que escorrem pelo óleo dos cabelos
e a morte que se aproxima
em cada ponto do relógio ponto
é o calor infernal dentro dessa caixa
cinco metros quadrados de desespero
o peito que teima em enforcar o ar
que falta a cada lufada ausente
o trovão na luz da artéria média
nesse cérebro corroído pela nicotina
porém a vida teima em esperança
como se fosse possível impedir o pelotão
no fuzilamento,
e fazer sofrer a morte com uma amnésia sem limites
mas a vida tem que seguir
o cotidiano desse trabalho é mais forte
impetuoso e viril que a vontade
a vida tem que seguir,
acinzentada com escapes fractais
sem o álcool vespertino no dissabor do copo
o gelo que derrete os restos de pele
dissolve a luta no marasmo dos olhares
morre-se em cada tarefa
nivela-se o horizonte através do excremento da moral
e assim a vida segue na caixa
posicionados de frente esperando
a sineta a liberar petiscos
ou que o velho vento anemofilize o corpo
para que talvez ainda permaneça em pé