como manter-se ereto por entre o pânico. eleve seu quadril mesmo com os joelhos flexionados. sinta sua respiração enquanto suas mãos procuram abrigo no chão. como manter-se atento por entre o pânico. encoste seu joelho no chão e ao elevar seu tronco sinta o alongamento do íliopsoas, enquanto suas vértebras cervicais destoam uma pontada em seu tronco encefálico, inspire pelo nariz e expire pelo mesmo nariz. expire por entre a costura ultrassônica da máscara, cheia de suor ao redor da boca que te infecta com pânico.
como manter-se conexo em pânico. toque seu joelho direito no solo ao mesmo tempo que seu osso do quadril descreve uma pressão no solo, eleve seu tronco sem precisar da força dos braços em exatos noventa graus de flexão ao lado do seu mamilo. não os force, não destrua seus ossos do carpo muito menos tenha uma lesão de tendão. mantenha-se calmo, expire pelo nariz, o mesmo que escorre pela costura ultrassônica e te concede o benefício da dúvida, entre o respirador ou xarope.
o som dos passos, as mãos flácidas, o rosto enrugado e a tosse, a maldita tosse em grupo, em turba, em si bemol, em uníssono, em madre pérola, em carvão (ativado), em rostos desconhecidos, em rima, em refrão, em duplas, em trios, em quadras, em esquinas, em quarteirões, em bengalas, em sobressaltos, em sustos, em soberba, em situação de risco, em foda-se quem estiver perto, em aleluia, em nome de deus me salvarei, em caixa, em saco plásticos escuros num vídeo clipe do korn, em satisfação por manter-se firme dentro de seu território de passos lentos, em xingamentos aos que questionam, em cusparadas homicidas, em acidentes quase inevitáveis quando tenta-se manter a distância social adequada, em cupido, entupidos, estúpidos, em aclamação da presença inevitável da sua vontade, em foda-se -se por um acaso espalhar a porra dum vírus assassino na tua cara-.
certas ações nesta tarde de segunda feira são tão homicidas quanto no planalto central.
os espíritas dizem ser isso tudo necessário. o mundo vibra numoutra frequência, diferentes dados das almas, que segundo eles, vagam por entre os humanos ainda físicos. os espíritas dizem que as mortes são compensações pedidas pelo criador de tudo, que o famoso deus feroz do antigo testamento está rotacionando um disco de bep bop e o mundo no xou da xuxa quatro ao contrário. eles dizem que tudo isso é necessário para o universo todo vibrar na porra da rotação dum monte de gente morta.
deve ser por isso que as ações governamentais se parecem tanto com um deus que pediu ao pai para matar seu próprio filho.
o pitch anda quebrado, as ruas da cidade numa segunda apinhada de gente. escolha ser infectado ou morrer atropelado. escotilha não é um item disponível, escoltas armadas ainda não perfazem malabarismos ortográficos para empurrar as pessoas adentro de suas residências, mesmo existente vontade governamental para que isso aconteça. escolas fechadas servem ao pandemônio em senhas, setas direcionam todos ao mesmo lugar.
na posição de saudação ao sol suas retinas queimam suor paranoico.
porém existe um contudo.
se o caminho é evolutivo, como querem os espiritualizados e psicólogos, como é que não pensar em um deus vingativo nesse amontoado de pessoas que parecem não entender o fato amostra em sua frente, desenvoltura da mutação genética. viral e humana. é uma curva de contragolpe vivo repleto de vontade em transcendência revolucionária. se há um poder nesta derrocada de início de século, é o verbo.
se há uma pura e genuína mudança, como não colocar fogo nestas almas que vibram em outra frequência. que não se importam, que nos querem mortos, que nos querem em caixões nos carros do exército, desfilando em filmes de história. que querem o extermínio dos mais pobres, dos sem água e sem esgoto, simplesmente por se acharem no direito de andarem em seus carros alegóricos de catarro virótico. usando uma fantasia de cidadania revestida de revólver carregado.