17 de maio de 2013

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A falha...


Falho como filho
falho como pai
falho como espírito
falho como santo
falho como homem
falho como pele
falho como falo
falho como tristeza
falho como espécie
falho como átomo
falho como ácido
falho como domingo
falho como mentiroso
falho como verdade
falho como vento
falho como tempestade
falho como falha
falho como acerto
falho como adereço
falho com seda
falho como soco
falho com absurdo
falho como sensatez
falho quando não rasguei tua pele
estraçalhei teu rosto
trucidei teu peito
quando rasgastes minhas folhas de libertação
quando impedistes minha alma de viver
quando empurrastes minhas vestes de Maria Carupitina
pois falho como objeto falho como estudo falho como mudo
falho como calma café como manhã falha como apreço
falho como pressa mágoa falha como presa morta
falho como norte suporte como suportar
falho como palavra como som como surdez
falho como lucidez como Lúcifer como loucura
falho como sanidade
como as folhas tentam rasgadas em vão oxidar o ar
como o concreto ejaculado em minha face açoita o vento gélido
como as mulheres das esquinas Indianópolis, Augusta e Jockey
como a dor pelo canal lacrimal anal que insiste em não curar
como a estatística amorosa torta, rota e morta
como o peito em remendo em catarro ardendo
como os trilhos dessa glande maltrapilha trapezista
como a manipulação morta da oposição do polegar
falho na espera que cinzas de cigarro homeostasem meu hálux torto
como a pretensa diferença entre viver e apanhar
falho como remédio vencido aflição de passear pelo centro
como aromatizante que não cede ao esgoto da República
como bituca a dilacerar cama betulácea
como nariz escorrendo rezando pelo remendo
como o vômito a esperar o fim do mundo
pois na falha não existe diferença
apenas a homogênica fração que nos amalgama
em pernas doloridas pela inércia da esteira
cordão metalizado
fusão fria transforma em degrau rolante
o passo então é célula deambulando trôpego
suado nos capilares e mortos
degraus que rompem a falha óssea
eclodem lava metálica dessas hemácias humanas
apoiando-se em corrimões pretensamente seguros
mas o caminhar é falho em todos
e a miséria é amante da falha
uma única entidade sacra que nos une
e não é o arder do olhar prematuro ao beijo que nos une
mas a falha intrínseca do incompreender a falha
como se fosse possível sentir os trilhos vivos
abaixo dos pés
sangrando
sangrando e humilhados
sangrando humilhados e nojentos
sangrando humilhados nojentos e purulentos
sangrando humilhados nojentos purulentos e mortos
mortos pela miserabilidade que se aproxima aos largos passos
galopa mais uma vez em meu útero
arromba meu próprio meio interno
miserabilidade mais uma vez em meu corpo extremo
em meu prepúcio colorido em restos de porra triste
restos de miserabilidade que mais uma vez reside
resiste
luta
ejacula a vida que encerra no fim dos meus sonhos
enfim o mundo ejeta o pus
transborda essa miserabilidade repleta em anonimato do metrô
nos rostos que vagam por palavras vazias em trens sem pressa
no veludo da voz de fellaccio robótica do metrô
miserabilidade Armênia, Portuguesa, Tietê mais uma vez
traqueja o que restou de minha doente alma sem peso na virilha
impotente como esse pau murcho alojado em minha calça
miserabilidade que bate em êxtase acalmando a morte
força o caminho da sombra a respirar por entre meus dentes sujos
desse sêmen auto ejaculado na minha faringe completa em miséria
miséria que atrasa o passo
torna o presente em dez anos atrás
sucumbe o hoje por milionésimas acetilcolinases felizes
sorumbáticas sucumbindo à libido poluente exalada nesse assento
na porta do inferno em flexão à zona norte
conduz o esmegma em meu cérebro ao encontro de parentes
que escondem o fato de terem opiniões sobre minha miserabilidade
miserabilidade que me acompanha desde a infância
por entre os azuis e verdes bolas de resina
o resquício pedante de meu aprendizado masturbatório
o feltro verde nojo ardente calças em vergonha
de silêncio materno
as fotos coladas secas por entre as folhas
duras inexatas repletas em seco sêmen translúcido
abortado natimorto
aleluia
aleluia
aleluia
amém punheta
amém fotos
corroídas pelo meu pecado original
catapultada pelo silêncio metabólico de meu pai
comprada de maneira simples e decapitadora por minha mãe
o pôster ilustrando minha miserabilidade do inalcançável
minha miserabilidade masturbatória canhota
seca minhas bolas secas de esperma
auxilia a luz inalatória marcelina
uma cena sórdida do desamor adolescente
ensinada por entre o feltro verde ausente de resina nas bolas verdes e azuis
amém javaronesca castecina sórdida que mostrou
no rosto de meu herói de infância o sabor do gozo fácil na rede de sinuca
deixando clara minha completa miséria e assim desde o começo falho
como todos falhamos assim como caminhamos
caminho por entre o desamor do funk metálico
uma aliança que estreita
bate o anelar ao redor de um cabo
criança de hecatômbica boca em tosse
escorrendo os alvéolos pelas laterais
caminho por entre os nós da forca na direção do cartesiano preferido
rezado pelo laço de salvação sem alado
pois não existe o cavalo redentor
apenas esperanças em migalhas necessárias
espero então esse trem em ombreiras cruas
exalando meu sangue por entre os trilhos
um mamilo em vermelho e azul uma luz sem túnel
enfim a matriarca de todos os háluxes alumia minha vivalma
transpassa meu odor mórbido de anos a fio
crava por debaixo de minha unha a lasca da redenção
e enfim caminho pelas falhas
pelo clarão acima de minha cabeça quando atingirmos a estação certa
primavera periférica viva em inverno cinza
caminho por entre os mortos meus pares ateus
católicos
bucólicos
cólicos
judeus
muçulmanos
brancos
negros
por deus [que não existe]
e o diabo quimera
caminho por jesuítas
indianistas
Indianópolis traficada pelas ruas e suas poças reflexivas
caminho por entre o mormaço dos budistas
pelas amarras dos holísticos
nas velas do candomblé
e meus pés sucumbem à inoperância do vomitar palavras
do amar até quando o cérebro apodrece
do sentir teus lábios frios em cada último suspiro
de meus ventriculares pseudópodes
em cada ambição que beija a esquizofrenia
pelas calçadas que cheiram fezes humanas
em cada amém ao caminhar através dos
escombros da alma
caminho por entre sonhos nada úmidos sem direção
pelas arestas do que restou de convicções indesejadas
caminhos pelo resto de pele que despenca nos cantos da máscara
encomendada através da genética helicoidal
do pós-modernismo e seus tapículas nas costas
caminho por entre o tomateiro a nascer em minha dentina
suicida hemorrágico em cogumelos esverdeados
transitando pela paz da consciência de que a guerra é inerente
caminho como todos que caminham em rumo certo
para o único caminho que realmente existe
o caminho da única certeza chamada morte
o pesar por não mais ser
e não por não mais existir
e mesmo assim falho [amos]
falho em mostrar alegria ao sair do escuro poço
em demonstrar medo através da carne e osso
falho em sorrir por conseguir
em chorar de alegria por conquistar
piedosamente o corpo busca ópio etéreo do incerto
colapso cerebral que falha
pela centelha do fazer certo
o caminhar sem tempo
ve-lo-ci-da-de
ve-lo-ci-da-de
pulsa por entre o occípto sentindo a lava escorrer a dúvida
ao longe
apertando um clipe no bolso onde a artéria lateja
o trocadilho metálico rodando sem norte
profundezas na coxa abrem caminho
então itálico manto de azul tinta
em jatos descendentes uma horda
perdendo-se em gás
corroendo borracha pneus e seda
ve-lo-ci-da-de
ve-lo-ci-da-de
a mesma que agora me volta a punir incrédulo calor
a mesma que me faz segunda nesse corredor de borracha
a mesma que sucumbe minha dor e coloco sorriso nos trilhos
que destoa o tortuoso penar do destino cármico
a mesma que insiste em sugar meus testículos mortos
que reside eternamente em minhas pernas
ve-lo-ci-da-de
ve-lo-ci-da-de
açoita enfim minha morte lúdica
arrasta essa areia sem tempo
afasta minha memória do verbo
anima vivalma em oco pesar
acalma a artéria teimosa em eclodir
ajuda no embarque preferencial
ve-lo-ci-da-de
ve-lo-ci-da-de
estupenda vontade em renascer
equivalente intumescer dos dedos que aos poucos
sentem o pulsar da vida nos poros
explosão de passos trafegando abertamente
por entre as velozes máquinas de ATM motorizadas
deslocando vozes metalizadas
equinócio da vida que retorna aos mares de calçada
ve-lo-ci-da-de
ve-lo-ci-da-de
mais uma vez a voz calada sente
o pulsar convexo da vida no vapor humano
transbordando aos poucos a lava alegre
que aos poucos concreta os resquícios de marasmo
por entre uma e outra ejaculação de sálica quente
que aplaca o ácido do estômago
abençoa assim o jamais abençoar a realidade
mata assim as marionetes destinadas
ao cartesiano do mundo poluente
ve-lo-ci-da-de
ve-lo-ci-da-de
salve-nos todos
salve a velocidade do respirar
e saber que é a única maneira de mudar
salve a tortura do não querer
salve a velocidade
aplaca esse fim
transforma a vida embutida em podridão no eterno pulsar
para que enfim o mundo possa abrir-se em velocidade de mudança
próxima estação Luz
sentir-se vivo é eclodir a velocidade do sentir
cada fase sináptica de tua respiração no asfalto
rolar dedos nos orgasmos vitalícios
dentro dessa vagina seca de concreto encanamento e poluição
sentir cheiros de antigos amores dentro do querosene
pelo suor de andar como louco
o amor pelo óleo a escorrer pela testa
pelas curvas de nível de seu corpo e o óleo em sua testa
assim vive-se assim liberta-se
assim a redenção torna-se oxidado cobre
assim a velocidade se faz
assim se faz a velocidade e a vida
pois a vida se nota quando a porta se fecha
as luzes se apagam em sintonia com a incerteza
quando nos une a falha e a miséria liberta
nos une na escravidão do pós-moderno
porém tilinta a vida pelo gás da chaleira pela manhã
por teus dedos por debaixo do edredom
chamando meu sangue espanhol translúcido e quente
pois a vida se nota no pior dos dias
fantasia do suicídio refletida em jaleco branco
máscara sem herói apenas vilania da alma
apenas farrapos lutam contra o vento
pois a vida se nota na bolha do hálux
água do pisar em lava
maniqueísta sem querer nada a não ser o que resta da vida
pois a vida se nota no desamor
na redenção na amargura no gozo na merda
na nascente cristalina do pus no querer
a vida se nota no brigar com o cartesiano dionisíaco destino amorfo
por entre as opulentas virgens católicas
opressoras da consciência humana
cortem suas gargantas para que possamos notar a vida
cortem suas gargantas familiares
pois não há luz sem a morte paradigmática
cuspam ácidos por entre as denteadas vaginas
dos séculos dos séculos dos séculos dos séculos
a eclodir repressão no cerne materno
atira longe esse leite da teta cabresto
a julgar tua vida como inóspita
pois a vida se nota quando sua alma clama o ódio aos pais
e o amor da ruptura quando o terno férrico torna-se
na alvorada do jorrar sangue pelas têmporas em desatino de vida
pois a vida se nota no ardor da loucura
no suor orgânico cultivado nas ressacas diárias
no limiar da realidade a bater
no reprimir a dor do dilacerar amarras
no fugir em desabalo do vulcão
no atordoar a glande com saliva anestésica no arfar do coito
nos seios intumescidos rodeados por uma insana língua
nos lábios grandes e pequenos a sublimar uma nota em meio tom
no soco no sangue  no oco
no espaço entre o lateja e a espera
no impulso do pênis a precipitar nimbos cúmulos
a vida se nota na falha da vida que acaba cedo demais
tarde demais atroz demais algoz demais
acaba nesse estado de falência imunológica
através da televisão em movimento nas plataformas
pois a vida se acaba nesse cansaço em descendência
escorrendo pelos pés na Voluntários
nas rugas oleosas cobertas por um pedaço de papel azul barato
nas trêmulas falanges digitais que percorrem ideias imaginárias
expurgadas como vírus silenciosamente por estrondos faríngeos
a vida acaba assim em carne semimorta na hora do rush
na parada seca de um saco transgênico e prateado
no suco da saliva sem marca
na bala seminua esquecida na borracha seca e negra e semi única
no fraco braço deambulante auxiliar insípido e sem inércia
no trôpego alívio do arroxeado vitiligo a balbuciar o destino
sem equilíbrio
na falta de espaço para coagular as sedimentadas células
de uma clave tossida escarrada e assimétrica
assimilada nas narinas alheias
no olhar em desencanto vertido pelo amianto em lava
que escorre por óculos escuros coloridos de acetato vinil
na velocidade da amargura desses trilhos insípidos
estáticos elétricos semideuses mortos
na má educação gordurosa cheirando a alho
escorrendo pela epiderme sentada no fundilho da sinapse
no asco sentido como ácaro
corroendo suas coxas coxas
masturbando a decepção em ainda persistir em respirar
no oco do olhar de perto transversal raio de Luz Armênia
a vida acaba na lateral do rio poluente
abraça o destino escrito e dirigido como se fosse único
nas paralelas veias do cachimbo a subir pelas rolantes escadas
em nuvem ocre de gosto metálico
dai então a final lata perfurada por pequenos garfos
completa por um berço de cinzas
a ninar as únicas pedras que dissolvem e não rolam
e a vida assim se nota
nas beiradas de uma metamorfose vazia
em alma sem ecdise na falha de viver assim sem o mim
assando condimentos aéreos sem gravidade
em malemolentes males de uma ulissiana máquina de moer carne
também chamada de estado
um martelo dentro do exército de cabos hipnotizados
caminham na direção do fim
atemporal miopia de vida que se nota
assim no pavor feminino
na tentativa inerte de um cavanhaque semigasto
em deixar sua loção amanteigada encostar-se aos braços delas
as notas de saliva dele a procurar coincidência que o mantenha ereto
a esperança masculinizada capitalista paternalista fétida
em pensar que o pavor feminino é a equalização do desejo
as entradas laterais profundas no cabelo
o anel cafetino me enrosca na sujeira do cavanhaque
a esperança machista em cada  testículo em ser meramente desejado
e mais nada
a vida se nota no vômito feminino apavorado
por ser encarcerada entre semigrades da cadeira plástica
presa  pelas células suadas que reluzem poeira
na falha da sedução no grito de nojo
feito em silêncio nos grilhões do metrô Neandertal
entretanto existe a falha na consciência em notar a vida
reflete o vazio com raiz na alma mesmo assim ela segue
dentro desse caleidoscópio soturno que enterra fundo as vontades
o perigoso jogo do não sentir nada
nuances de um colorido vazio que teima em enganar
engenhosas entranhas depressivas
então assim a vida finge esvair-se por entre o medo do escárnio
escancarado por uma alegria muda
uma nota trova em clave dolorida
a sensação do abismo pleonasmo que insiste
em encobrir os menores sorrisos
a dor do sol pulsando em seu pulmão
menor esquerdo
sangrando esse desejo em explodir [vida]
mesmo suprimido pela lenta órbita
que se torna descendente e seca
mas é preciso entender que esse monstro
existe deve ser ouvido
sentido
cheirado
tateado
copulado
mas deixado de lado
essa indiferença cinza com a vida deve passar
como tormenta mórbida e resta
assim suspire a vida
pulse a vida
queime a vida
veja a vida sem desamor
recorte a vida em feridas
monte a vida em febre
equacione a vida sem lógica
perca epilepticamente a vida pelo caminho
das sinapses involuntárias do arrebatar
o coração
note a vida em esperança dentro de olhos que não são os seus
vomite a vida no semblante esquálido e cancerígeno
que expele fumaça pelos poros da parede
intoxica a vida nesse pulsar incessante de raiva
odeie a vida pela inexata compaixão ausente
amaldiçoe a vida por cada dia onde inspirar
colaba dissabor
um odor dissolvido cerebralmente pelos enquadramentos dessa janela
em movimento
o ar rarefeito açoitando as gônadas perpetuadas pelo cheiro do desespero
então socorra a vida pelas convexas claves blacknianas dealizadas
ignore a vida em duplicidade
cambaleie a vida egoísta que se esconde nesse par de fones
encurrale a vida quando deposita suas opiniões moderadas
pulse a vida como os canos em lava de Crackity Jones
por fim abençoe a vida em la la la love you
escorrendo pela dentina um sorriso desavergonhado
mas antes comprima a vida em um oitenta polegadas dos Pixies
mas a vadia vida teima em mostrar o erro da realidade
gutural seca e gélida como beijo no concreto
da marquise na estação coberta pela ventania superior
perceba então a divisão da vida em castas
castas que revelam a falha dessa realidade pós-moderna
selvagens e civilizados bucknovikianos
dividindo não mais ilhas isoladas por dez continentes restantes
mas o mesmo asfalto abjeto refletor de escaras
o amálgama dos heteronômios heterogênios
não existe mais divisão
e é tudo divisão
selvagens vestindo se de retalhos
em cinza e marrom escuro reconhecendo-se pelo cheiro
viscerais faringes rasgadas monossilabicamente
reúnem-se
usam as vias como altares
derretem-se pela trama dos cobertores em um dia de sol
fundem-se ao asfalto dividindo o calor no frio concreto
formam sindicatos da alma humana em sombra
não querem o sol monopolista
católico
evangélico
oxigênio provém alimento
fotossíntese que redescobre a cadeia genética modificada
a mais sensível liberdade
selvagens são deuses pagãos de Galeano
livres de amarras atreladas aos bocais
livres em assepsia literal
livres como dedais soltos multicoloridos no lado escuro da lua
livres como o idioma
livres do segredo higienista
livres para escolherem a paranoia
ou a morte
livres das amarras cristãs
e protestantes
livres para serem tudo o que a sociedade esconde
no mais fundo sináptico concreto armado
livres como uma vagina úmida
livres como uma artéria peniana a latejar
livres ao relento extravasando os berros pela rua
pela loucura que é sentir a vida
pulsam e são livres para pedir doar amar
livres como cães do mato alados de vivalma
selvagem o povo maltrapilho
é a essência humana pura
não mais escondidos longe das pinturas dos bairros altamente monetários
selvagem a ode ao sobreviver aos trancos e barrancos nas marginais
ensinem ao resto de nós a língua nativa
do viver em harmonia com o desacato nazista
criado pelo amante de Maria Madalena
guiem essa nação cega e falha a degustar
o cotidiano cercado farpado segregacionista
pois sois vós selvagens a evolução do vácuo onde se encontra nossa alma
não mais nas gravatas e discursos
necessitamos agora do pó calcificado de cor negra debaixo das unhas
gozando da liberdade do não ser coisifiquem seus algozes
filósofos detratores elitistas e descolados
pois são a quimera alquimizada em trovão da evolução
o polo centrípeto desenhando um raio de salvação
em cerebelos brancos
unam-se selvagens mendigos marginais negros gays lésbicas canabistas cocainômanos
sedentaristas poetas fracassados escritores do caos
malocas favelas comunidades entidades perdidos da psique
periféricos habitantes dos buracos viadutinos mascarados arlequins sem baile
mães órfãs pela estocada do fuzil em seus úteros vazios
sem teto sem lar sem terra sem meio sem começo sem futuro enfim
porque precisamos do ensinamento dessa brisa de preguiça
da intermitente chuva ebulição do mormaço posterior na caminhada
das gotas varrendo os restos de pólvora dominical
da água embalando o ninar do apocalipse que não chega aos créditos
das trovoadas que cercam a capela roxa no horizonte
absorvendo limites  destruindo limites do pensar
dos raios aquosos desmoronando barreiras do inconsciente nas sinapses
da chuva horizontal antifísica que se aninha no seco peito
pois é na chuva que a máscara da falha de desfaz
a mesma falha que nos une
a mesma do calçamento podre nas ruas do baixo centro
a que forma insípidas poças onde os focinhos procuram
o mictório
a falha que percorre os pictóricos do Elevado
a cravar seus pseudópodes pela cicatriz ainda aberta no rosto do pastor da Sé
que reside na merda deixada dormente
tateando os ósculos nas calçadas dos Campos Elíseos
a falha que se esconde no concreto do viaduto dos Bandeirantes
a ruminar a lama do calçamento na República
a revelar o  medo da descoberta quando se abaixa o vidro
na Avenida Indianópolis
a falha que desafia a morte
estampada no coldre frio da automática dormente
dona do traficante da Rua Alba
a rezar pela lama dos pastores da fé na Avenida São João
a mesma falha que caça os viciados na fonte da rua Ipiranga
a despejar do centro as vidas que se alojam na esperança
essa é a falha que não deixará de ser falha
pois se esquece do estremecer da lágrima sobre o sangue
esquece que o sentir matará a fisiologia exata do corpo
esquece que o sorriso destruirá a equação formal
então a liberdade será completa
pois ela só é visceral e selvagem quando
deixamonos estuprar pelo sentir
venha então pois fálica lágrima e largo sorriso
amantes do sentir
roubem essa dentina esquecida matem essa ecdise morta e libertem a alma
deixem esse revés por parecer próximo do absurdo
essa realidade inexata é mais completa
humanizem as articulações de outrora que estão podres
invadam o cartesiano tornem a todos nós selvagens
loucos com arrombos de pensamentos livres
como criança a soletrar seus saltos em inglês pelo metrô
sentir reduzirá a última união mórbida do ser humano
pois mesmo que ela ainda nos uma ela é o poço
o fundo sem fim desumanizado
a falha é o resto do nada
vive nas camadas proteicas e morrerá pelo sentir inexato
através da metralhadora ventricular esquerda.