30 de maio de 2013

e aí meu pai como estão as coisas?

aqui andam na velocidade de vento /
muitas vezes poluído, como /
se fosse capaz de marcar as pessoas /
com apatia cinza 
                         [ilesa

teve arrastão no centro / 
demorou até, vou te dizer / 
ano passado, lembro, voltei correndo / 
com ela nos braços / 
sempre /
não foi assim contigo? /
inevitável não ver pai / 
que temos muito mais do que apenas
                                 [olhos parecidos


hoje enquanto andava /
o cachorro a olhar-me / 
soube / 
aquilo que me ensinaste existiu / 
sobre um mais dois / 
sendo três / 
pensei e imagina /  
que consegui sorrir 
                  [perigosamente inadvertidamente

imagina eu / 
que o senhor já viu acenar / 
em queda livre de cataratas / 
com a alma aos pedaços / 
rocambolesco final em 
                     [cadarços rasgados


o sorriso que persiste /
mesmo com essa cidade de doença crônica / 
patologia na maior capitania hereditária / 
um cheiro que invade narinas / 
clamando pelo resto do oxigênio / 
o mesmo que mata e oxida / 
mitocôndrias em
                         [ seres quase humanos


crônica lacerante patologia / 
habitante da cana após transitar pelo café / 
pseudópodes da cultura de abastados, forjando / 
ferro em brasa do capital / 
na forma da política de coluna social interiorana / 
morada hoje 
                  [ da nova era babuinica

lavada por uma chuva perene / 
que alaga o canto d´olho / 
inunda o canto da unha / 
por entre as ranhuras / 
do rasgado tênis, ao mesmo tempo / 
que três setas nos carros são as
únicas vias de luz
                         [ que sobrevivem


inversos às lágrimas que escorrem / 
das rachaduras dos calcanhares / 
em pés dos dedos nos chinelos secos / 
a bruma úmida de elíseos campos / 
de bons retiros / 
são apenas lembranças de inexistente
                                    [infância


em dias de chuva meu pai / 
é possível sentir apatia de São Paulo dormente / 
sabe-se aos poucos que enfim o ar, a sobrar / 
no espaço por entre as gotas / 
é puro e sem poluentes / 
talvez a coisa mais brejeira seja esse andar / 
devagar do tempo, acompanhando / 
estertores do esforço passante. /
Porém, sabe-se também / 
que a apatia não se molha
                         [pois seca é


seca como a Sé - no meio do dia - , /
engolindo aos trancos passos / 
engolindo o zinco dos trilhos / 
deglutindo em seu barrete / 
restos da digestão da alma humana. / 
Ainda assim persiste em cair / 
a água do cinza céu / 
remodelando o tempo a seu favor / 
encanto mambembe do clima / 
nas arestas, fachadas que assoviam
                                  [luz no meio do dia

interessante é ver como essa felicidade tardia / 
no passar cartesiano dos dias / 
chega tão forte quanto a tonelada de trovões / 
a cair desses céus de concreto /
emendar um som ao outro
                       [como concerto


mesmo que eles queiram a gente triste / 
com esse amontoado de sujeira / 
que insistem em colocar como saída / 
dessa vida de capital /  
essa violência patrocinada / 
como forma de fazer democracia. Muito mais /
espelho de descaso, do que pessoas ruins / 
muito além do simples rótulo de baderna, / 
mas como esconder bandidos, / 
se as regras são ditadas pelos
                              [que usam terno?