4 de novembro de 2013

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delírios metroviários

Enterra-se pelos trilhos pelos túneis,
enterra-se,
enterra-se através dos conduítes de ferro,
enterra-se,

pela vidraça encouraçada que atravessa os rostos,
enterra-se através dos sonhos mortos nos escombros
das mãos que a talas largas pretas no corrimão recolhem,
enterra-se cada vez mais em cada dia
em cada cotidiano onde adentro lento pelo vento

das passagens e catracas
a esconder mais mórbida maneira
de encarar os medos,
através da não voz.

Enterra-se no desfazer da mente humana
absorvida pela apatia de passantes
durante a hora do desassossego
às seis horas da tarde,
e por mais que não queira enterra-se.

Enterra-se cada vez mais fundo
nas difusões elétricas
que correm os freios das máquinas,
que penetram por entre seu cóccix
rompendo últimas pregas cartesianas,
e retais.

Assim seu corpo consegue enfim
sentir-se parte de alguma coisa
enquanto enterra-se por entre os últimos suspiros
de decantada alma dissolvida
nas resoluções
que não servirão ao nada e para nada,

Enterra-se na falta de surpresa
por saber que o corpo apodrece,

ao longo de cada dia,
ao entender que a vida
não lhe propõe grandes fatos,
a não ser aquelas misérias
que apegam-se em seu peito...