Pois o amor, insolúvel edema de
uma lesão em segunda intenção negando-se à fechar suas bordas não coaguladas,
arrebata, afaga e por fim dissolve a epiderme dessa alma aberta. Semelhante à
escrita em itálico, com suas formas arredondadas e favoráveis aos olhos
descobrirem suas curvas mais bem definidas e reais. A escrita não pode ser mais
ou menos verdadeira, assim como a alma, que como as letras é argamassa
moldável, transitando entre as mãos do passado e presente. Um coágulo vivo a
pulsar por ente os dias dentro de sua mais escondida artéria, a vida que
escorre para não mais voltar os segundos perdidos por entre lembranças do
passado, que insiste em tornar-se homicida do presente.
Porém incrível é perceber como
essa armadura formada pelo viver o agora, aos poucos consegue irromper a afasia
do corpo teimoso e alcoólico. Uma desunião entre o que se foi e o que se é tão
visceral, que possivelmente existirão dois reflexos de duas pessoas diferentes
vivendo por debaixo dos mesmo sistema linfático poroso. Não existem ligações
sulfúricas demais a unir essas duas psicoses. O passado escárnio do presente e
o presente escárnio do passado. Um a rir do outro como dois irmãos gêmeos
univitelinos ligados pelas vísceras. Sangrando em cada pedaço das suas
entranhas a raiva por estarem colabados por uma membrana única, e ao mesmo
tempo, jamais tocarem-se. Uma fenda de era geológica a separar duas entidades
diferentes vivendo no mesmo corpo.
Por
entre pedaços restantes da halitose parca e seca do vento naquele varanico em
agosto, o dilema mostrava-se ainda mais dilacerante…