13 de fevereiro de 2013


Pois o amor, insolúvel edema de uma lesão em segunda intenção negando-se à fechar suas bordas não coaguladas, arrebata, afaga e por fim dissolve a epiderme dessa alma aberta. Semelhante à escrita em itálico, com suas formas arredondadas e favoráveis aos olhos descobrirem suas curvas mais bem definidas e reais. A escrita não pode ser mais ou menos verdadeira, assim como a alma, que como as letras é argamassa moldável, transitando entre as mãos do passado e presente. Um coágulo vivo a pulsar por ente os dias dentro de sua mais escondida artéria, a vida que escorre para não mais voltar os segundos perdidos por entre lembranças do passado, que insiste em tornar-se homicida do presente.
Porém incrível é perceber como essa armadura formada pelo viver o agora, aos poucos consegue irromper a afasia do corpo teimoso e alcoólico. Uma desunião entre o que se foi e o que se é tão visceral, que possivelmente existirão dois reflexos de duas pessoas diferentes vivendo por debaixo dos mesmo sistema linfático poroso. Não existem ligações sulfúricas demais a unir essas duas psicoses. O passado escárnio do presente e o presente escárnio do passado. Um a rir do outro como dois irmãos gêmeos univitelinos ligados pelas vísceras. Sangrando em cada pedaço das suas entranhas a raiva por estarem colabados por uma membrana única, e ao mesmo tempo, jamais tocarem-se. Uma fenda de era geológica a separar duas entidades diferentes vivendo no mesmo corpo.
Por entre pedaços restantes da halitose parca e seca do vento naquele varanico em agosto, o dilema mostrava-se ainda mais dilacerante…