5 de novembro de 2013

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Prefácio

O sangue morto descansava no palato.
Mais importante do que tentar abrir os olhos, era precisar se estava viva ou não. Uns poucos suspiros herméticos ainda não encontravam reverberação dentro do peito, e, menos por precaução e mais por uma lacerante fraqueza, não conseguia sequer levantar os braços para tentar enxergá-los. O que acabaria tornando-se uma tarefa ainda mais ingrata, afinal de contas os olhos estavam tão embaçados e cobertos por algum tipo de pomada, dificultando ainda mais as frustrantes tentativas em manter uma conversa racional com o meio ambiente. Homeostasia enfraquecida pela inércia do tentar morrer em cada inspiração forçada, a incapacidade de cortar-se ao meio e sobreviver colocadas em jogo naqueles iniciais instantes, onde marejados olhos em vão moviam-se. Existia um reconforto por estar deitada sem nenhuma sensação de esforço corroendo os músculos, porém era só isso. Uma bolha de tempo onde estava imersa. O mundo resumia-se apenas nas tentativas de entender onde estava e como estava.