26 de fevereiro de 2014

– Dois copos de água morna, duas colheres de açúcar e uma de sal acompanhadas por um quilo de farinha, os cinquenta gramas de fermento de padaria somados ao único e ímpar ovo. Esse era o único pensamento que passava na cabeça da matriarca depois do esforço feito durante exatas oito horas infinitas naquele domingo, assim ela conseguiu dopar-se aos poucos, distanciando-se da dor. A professora, longe fisiologicamente de sua aparência entre os sessenta ou sessenta e cinco anos, repensava seu cinza cabelo como amálgama novo de restauração e deixava os olhos negros divagando sobre o suor a escorrer na pele cozida do sol, porém ainda caucasiana, sofrendo denúncias de suas pintas no rosto e ombro. Existia uma resenha leve de consternação em seu olhar, nascida nos portões ditatoriais nos anos setenta, tempo onde a ideia do ser liberto era apenas brasa morta, sobre o qual a mãe de Hilda falava com a mesma articulação, mesclando frases de canções e poesias em cada pensamento exteriorizado, pontos de vista do seu um metro e cinquenta com a estrutura óssea leve e finas mãos, exatamente iguais as limpadoras de cargas explosivas da Segunda Guerra. Sempre vestida com camisa de botões, mais largas do que seu tamanho pois precisava sentir-se apta aos trejeitos exigidos pelo linguajar, assim como era antes, quando administrava os aparelhos na ALN, onde aprendeu a montar e limpar um fuzil AK-47 de olhos fechados, assim como a massa de pão que naquele momento lhe fazia companhia em pensamento.