12 de fevereiro de 2014

, ,

Estranheza...

Eles causavam estranheza nos arredores, como não poderia deixar de ser,
dentro desse aquário metalizado com ar pela metade condicionado,
pelo inferno no meio de fevereiro.
A estranheza nos sapatos indefinidos nos rebites do bicos, no tênis de camurça suja, sem meias,
onde um farol alumiava o cabo do tornozelo esquerdo.
As duas pernas brancas, limpas de vivalma anil, os pelos ondulados formando o mar,
para nadadeiras carpas alaranjadas e barcos gastrocnêmicos distanciando-se do farol.
Coxas em beleza semi-flácida, naturalmente deslocadas do cartesiano ideal grego.
A bermuda longa, surrada e metódica suja e o shorts mais azul que o jeans,
menos que o céu de azedume verão.
Os braços, longa morada de navios, tanques e asas, a camiseta branca, continuação da pele sem mangas,
o verde oliva construindo tuneis navais.
Cabelo quadrilátero repousando solto no pescoço, o preso longo grosso no topo da cabeça
mostrando as orelhas.
O lápis marcando laterais oculares livres de movimento,
intoxicadas com a hipnose do outro olhar mais ameno, castanho
e emoldurado por duas sobrancelhas grossas, quase únicas.

Lábios marcados em vermelho e aço, contraste com o marrom e ferro do outro,
orelhas adornadas e alargadores ausentes, pequeno balanço de parque lobular, orelhas em ferro,
conjuntos paralelos moldando os olhos.
Mãos encontrando-se em braços, os braços estalando-se em troncos,
os troncos se percutindo tão intimamente que deixavam estrábicos traços no ar.
Mãos, os braços, os troncos,
os troncos, os braços e as mãos com suas bocas,
as bocas e os dedos nas mãos causavam estranheza dos olhares.

Estranhos eram assim, pois dentro do mundo de lata em dias e dias iguais, o amor é inexistente,
o contato apenas uma forma de angariar espaço que também inexiste,
inexiste da mesma forma o corpo,
pausando o respirar procurando a sobrevida nos trilhos,
um último e derradeiro estertor pulmonar
a alavancar átomos da vida que inexiste.