3 de fevereiro de 2014


O único entrave era que ninguém conseguira ver o nada.

Não por falta de interesse ou tentativas, mas por ser inebriante e impalpável. Essa aura sacra ao nada era uma veia metafísica existencial injetada ao longo dos séculos, o que o tornava um santo grão invisível. Ao mesmo tempo em que sua existência preconiza acreditar na sua forma, o que por si só seria como crer em na presença de espíritos e planos astrais, desconhecida é uma maneira eficaz em conceber uma definição pura de maneira aristotélica, afinal, a dicotomia das coisas excedia em muito a presença do nada. Um copo cheio de água quando esvaziado ainda lhe restavam à consciência em ser copo e o ar dentro de seu interior, que ao tomar o lugar da água torna-se protagonista da cena, o escuro quando muda seu espectro torna-se claro e não se torna o nada, e vice e versa. O vazio não pode ser definido como nada, pois estes, existenciais ou não, são repletos de moléculas de ar ou entrecantos calamitosos de sentimentos que invalidam a presença da completa falta de matéria, o vácuo também inexiste nessa definição do nada, pois existem as pressões e limites do espaço físico, podendo ser uma embalagem de café ou a minha caixa de areia chamada Cosmos. A definição do nada como a ausência ou falta de alguma coisa vai contra sua própria existência. Sendo ele a absoluta falta de preenchimento, ainda lhe sobra à percepção de ser nada pelo outro, pelo seu antagonista e por sua nêmese, assim sendo, o nada já pode ser considerado um pedaço do tudo, seu antagonista determinado na curvatura mais clara ou escura do yin e yang, sem nenhuma real intenção em sentir-se único, apenas uma parte do completo estado bruto de existência, porém sem uma definição concreta estabelecida pelo homem muito menos por mim. E esse era o problema. Como explicar o nada, como determinar o que ele é, se para os relojoeiros do universo chamados astrofísicos, até o nada dentro de meu universo é chamado de massa escura. Complica-se muito mais a história dessa definição, porque como algo que é nada pode ser uma massa escura. Existe a massa, então não existe o nada. A massa é o nada e a massa é o tudo que contém também pedaços de nada, parte de pedaços de tudo. O tudo, o nada e a massa, a massa, o nada e o tudo. Ninguém conseguia entender esse pedaço de meus trabalhos, na verdade, essa parte de minha história, mais precisamente meu nascimento e como acabei criando tudo depois.

(continua...)